CAVIGNAC, Julie & MACÊDO, Muirakytan K. de. (orgs.). 2014. Tronco, ramos e raízes! História e patrimônio cultural do Seridó negro. Brasília: ABA; Natal: Flor do Sal; EDUFRN, 400 pp.
Resumo: Este artigo se propõe a explorar a possibilidade de pensar a comensalidade como uma prática de produção do parentesco em alguns contextos quilombolas no território de Chapada dos Guimarães. Para tal, parte de contextos etnográficos das festas de santo e da perspectiva quilombola acerca das práticas coletivas de trabalho, trocas e comensalidades. Visa, sobretudo, mostrar como os quilombos se recriam em territórios existenciais em contextos de negação de sua existência como sujeitos. Quilombo é um devir. Palavras-chave: Quilombo; Comensalidade; Chapada dos Guimarães. Abstract: This article aims to explore the possibility of thinking of commensality as a kinship production practice in some quilombola contexts in the territory of Chapada dos Guimarães. To this end, it starts from the ethnographic contexts of the feasts of santo and the quilombola perspective about the collective practices of work, exchanges and commensalities. Above all, it aims to show how quilombos recreate themselves in existential territories in contexts of denial of their existence as subjects. Quilombo is a becoming.Keywords: Quilombo, Commensality; Chapada dos Guimarães.
<p>Este artigo versa sobre o processo de emergência étnica de duas comunidades</p><p>negras que se autodefinem como "comunidades remanescentes de quilombos",</p><p>Lagoinha de Cima e Lagoinha de Baixo, localizadas no município de Chapada</p><p>dos Guimarães, estado de Mato Grosso. A experiência etnográfica e a análise</p><p>da narrativa mostram que estas comunidades negras, ao se identificarem como</p><p>comunidades quilombolas, não se veem como "sobrevivências" ou "sobras"</p><p>dos quilombos históricos do século XIX, mas como sujeitos de direito, que</p><p>reconhecem um passado marcado pela escravidão e exclusão social, e que hoje</p><p>interpelam o Estado e a sociedade, reivindicando direitos por meio da titulação</p><p>de seus territórios tradicionais e o reconhecimento da diferença cultural como</p><p>grupos étnicos.</p><p><strong>Palavras-chave</strong>: emergência étnica; quilombolas; Chapada dos Guimarães.</p>
O presente artigo é resultado de uma pesquisa etnográfica na comunidade quilombola Lagoinha de Cima, localizada em Chapada dos Guimarães, Mato Grosso, onde buscou-se compreender a sua cosmologia tendo como referência as narrativizações sobre práticas de arrumação e benzeção, - entendidas como modos de intervenção mágica capazes de atingir os corpos humanos, vegetais e animais – assim como a agência dos santos e outro seres não-humanos. A noção de religião mostra-se limitada ao entendimento das experiências identificadas, pois as dimensões cosmológicas não se reduzem à institucionalidade do religioso. O potencial etnográfico desta pesquisa consiste tanto em descrever a ontologia subjacente à organização social quanto em elucidar os enquadres explicativos nativos sobre as transformações políticas e sociais vivenciadas por esta comunidade.Palavras-chave: identidade étnica; cosmologia; quilombola; seres não-humanos
Este dossiê temático da ACENO tem como objeto as territorialidades e processos de identificação negras, quilombolas e indígenas. A proposta busca chamar a atenção para processos de identificação e territorialização que forneçam perspectivas adicionais às análises consolidadas que se dedicaram às tradições, à etnogênese e às situações de fronteiras étnicas, mais afeitos às mediações com o Estado-nação, que privilegiaram as relações políticas, agentes e agência da burocracia.
Um movimento renovado de coletivos indígenas, quilombolas e negros tem revisitado tais abordagens mediante a crítica sistemática aos padrões eurocentrados, brancos e coloniais que produziram a invisibilização sistemática do que esses movimentos consideram relevantes. Dentre essas, categorias como "retomada" e "resistência" – não apenas como reação mas como re-existência – territorial e existencial são fundamentais quando tomadas como conceitos que descrevem diferentes vínculos entre actantes dos mais diversos modos de existência.
A proposta privilegiará a publicação de etnografias e reflexões teóricas acerca desse novo cenário no qual entes produzem reflexões cosmopolíticas e modos de agir com (ou contra) o Estado-nação de modos antes insuspeitos. Espera-se que as contribuições contemplem a diversidade regional, étnico-racial e de gênero, bem como contribuições dos povos originários e povos e comunidades tradicionais.
Trata-se de consolidar olhares não pela via da memória ou da prova, mas pela cosmologia e relacionalidade estendida a todos existentes, recuperando algo dado como perdido ou inexistente. Pretende-se de sublinhar identificações e territorialidades que encontram novas maneiras de se expressar, retomando terras, práticas, contato com seres, objetos, linguagens sem que essas nunca tenham sido perdidas de fato.
Apresentação Dossiê: "Cosmologias, territorialidades e políticas de quilombolas e de povos tradicionais" – ACENO, Revista de Antropologia do Centro-Oeste, 6 (3). Cuiabá: PPGAS/UFMT, ago. /dez. 2016.