In: Political geography: an interdisciplinary journal for all students of political studies with an interest in the geographical and spatial aspects, Band 83, S. 102186
Abstract 'Sacrifice zone' is how a certain type of segregated and stigmatized space has become internationally known. In such a space, the physical and mental health and the quality of life of human beings are compromised in the name of 'economic development' or 'progress' – but ultimately for the sake of capitalist interests. This article offers a discussion of how environmental issues, power relations and the production of subjectivity intersect in the production of a kind of space that is typical of how residential segregation correlates with patterns of industrial location and the neglect of the health and well-being of the poor by the state apparatus in the (semi) periphery of the capitalist world system.
O presente artigo possui dois objetivos. Em primeiro lugar, o de esclarecer o significado de certos termos, a começar por "autogestão", apontando ao mesmo tempo para uma diversidade de acepções que, se por um lado pode confundir e até mesmo indicar banalização e difusão inconsistente, por outro lado não deixa de ser sinal de vitalidade, sempre que os movimentos sociais redescobrem e até reinventam certas ideias (princípios, bandeiras de luta, formas de organização), adaptando-as a novos contextos, diferentes daqueles de origem. Entretanto, é preciso não minimizar o problema da existência de tensões e contradições significativas, quer no plano propriamente discursivo, quer no entrecruzamento desse plano com aquele das demais práticas espaciais concretas. O esclarecimento do conteúdo dos termos autogestão, "autoplanejamento" e autonomia será feito considerando não somente a reflexão acadêmica a seu respeito, mas também a produção discursiva e o conjunto das práticas de certos movimentos sociais contemporâneos - com atenção para o fato de que, assim como os movimentos sociais criam um léxico que amiúde influencia e inspira a produção acadêmica engajada, esta foi, também, historicamente apropriada de diferentes maneiras pelos movimentos sociais. O segundo objetivo deste texto é, por isso, examinar, ainda que sumariamente, as promessas e as incoerências que podem ser verificadas na autorrepresentação dos movimentos, as quais indicam possíveis (des)caminhos no tocante à difusão de certas palavras e ideias.
Quem são os "libertários"?É muito comum entender "libertário" como sinônimo de "anarquista". Historicamente, trata-se de uma interpretação justificável, afinal, os termos "anarquista" e "libertário" têm andado de mãos dadas desde o século XIX. É costume os franceses atribuírem a cunhagem da palavra "libertaire" ao anarquista Joseph Déjacque, em um panfleto datado de 1857. Pode-se afirmar, com segurança, que, desde meados do século retrasado, e começando pela França, "libertário" é um qualificativo que esteve, principalmente nas línguas neolatinas, vinculado ao movimento anarquista. Porém, hoje em dia, essa tradição de tomar como equivalentes "libertário" e "anarquista" deve ser vista como muito restritiva. Entendidos de maneira ampla e generosa, o pensamento e as práticas políticas dos libertários constituem e sempre constituíram, por assim dizer, uma "família" relativamente heterogênea de correntes e subcorrentes. Como em toda família, também aí houve e há divergências e até mesmo rusgas. Existe, não obstante, um forte elemento comum: uma postura ao mesmo tempo anticapitalista e de oposição ao marxismo-leninismo, devido a seus elementos autoritários e conservadores.
Mudanças e crises teóricas têm assinalado, de algumas décadas (e sobretudo de alguns anos) a esta parte, a necessidade de encontrar ou refinar e consolidar novos marcos analíticos para examinar e avaliar as agendas e a práxis nos processos de mudança sócio-espacial. Nenhuma prática humana é totalmente independente do espaço social, mas ocorre que algumas se mostram apenas fraca e indiretamente dependentes da dimensão espacial da sociedade, ao passo que outras se acham forte e diretamente impregnadas dessa dimensão, em aspectos que vão da identidade à organização. São estas últimas que merecem, no entendimento do autor destas linhas, a designação simplificada de práticas espaciais, as quais são "práticas sociais densas de espacialidade". As práticas espaciais têm servido, obviamente, tanto à dominação, à coerção, à imposição de cima para baixo ou de fora para dentro das leis e normas que regulam a vida de um grupo ou sociedade, quanto à emancipação, à autodeterminação, à autodefesa legítima, ao autogoverno, à instituição livre e lúcida das leis e normas pelo próprio corpo de cidadãos, diretamente. Trata-se, no presente trabalho de examinar as práticas espaciais dos movimentos sociais urbanos emancipatórios. Interessam, portanto, as práticas espaciais que se vinculam a uma perspectiva de transformação emancipatória da realidade sócio-espacial – em uma palavra, à práxis. O artigo apresenta, inicialmente, uma discussão dos conceitos de poder (dialogando-se com Michel Foucault, Hannah Arendt e Cornelius Castoriadis) e prática espacial (partindo-se, sem pretensões de fidelidade, da contribuição de Henri Lefebvre). Na seção subsequente, oferece-se e discute-se uma tipologia das práticas espaciais insurgentes protagonizadas por movimentos sociais. A utilidade de se construir uma tal tipologia não se esgota, evidentemente, na tipologia em si mesma; faz-se mister, complementarmente, discutir os limites (contradições e obstáculos) das práticas espaciais dos movimentos, que é o que traz a última seção do trabalho.
A Geografia tem, tradicionalmente, cultivado uma espécie de "visão de sobrevôo", analisando as sociedades e seus espaços quase sempre "do alto" e "de longe". Essa perspectiva é, de certa forma, aquela que é própria do Estado. E, de fato, o aparelho de Estado sempre foi o principal "locus de construção discursiva" da Geografia. Raramente o "locus de construção discursiva" dos geógrafos de formação foram ou têm sido os movimentos sociais. Isso tem sido, justamente, ao mesmo tempo uma causa e uma conseqüência da "visão de sobrevôo". Não se sugere, neste trabalho, que "olhar de longe" seja algo em si mesmo reprovável. Afinal, o "olhar distanciado" permite que se ganhe uma perspectiva que é imprescindível e insubstituível: aquela que faculta uma "noção de conjunto" e que permite trabalhar com as escalas da estratégia. O problema reside em adotar com exclusividade esse olhar. A solução, por conseguinte, não consiste em substituir meramente o "olhar de longe" pelo "mergulho no quotidiano", mas sim em combinar as escalas (de análise e de ação) de modo a não abrir mão de nenhuma, tanto quanto combinar os olhares o de perto e o de longe; aquele que permite "colocar-se de fora" (e à distância) com aquele que exige "estar dentro".
No que se refere às cidades, uma interpretação que se difunde rapidamente pelo mundo é aquela associada ao chamado "empresarialismo urbano". Os seus adeptos tendem a ver com nítido otimismo a globalização e os seus efeitos sobre as cidades. Argumentam, tipicamente, que o Estado-nação teria se tornado "pequeno demais" em face do grande capita! transnacional, ao passo que, para a promoção ágil do desenvolvimento econômico e do bem-estar dos cidadãos, mostrar-se-la "grande demais". Para eles, uma cidade deveria funcionar tal qual uma empresa, concorrendo com outras cidades para atrair capitais, cabendo ao Estado o papel de costurar "consensos" e ajudar a criar um bom "ambiente de negócios". Uma interpretação concorrente, notadamente no Brasil, é a representada pelo ideário da reforma urbana. Aqueles que com esta posição se identificam tendem a assumir uma postura crítica em face da globalização capitalista. Recusam a atração de investimentos a qualquer preço, priorizando a meta da redução de desigualdades. Mesmo quando admitem um certo encolhimento da margem de manobra do Estado, rejeitam qualquer determinismo, e tampouco concordam com a idéia de que o Estado local deveria concentrar-se em "criar um clima de negócios favorável". Reconhecer a relevância e algum tipo de papel positivo para o Estado, em matéria de políticas públicas, entretanto, não pressupõe que o papel da sociedade civil deva ser circunscrito a esquemas participativos tutelados pelo Estado. Acentuar isso, seja direta ou indiretamente, parece ser justamente a contribuição de certos movimentos sociais da atualidade para uma renovação do ideário da reforma urbana — urgentemente necessária em face da marcha avassaladora do "empresarialismo urbano".
Using international perspectives and case studies, this book discusses the relationships between community development and populism in the context of today's widespread crisis of democracy. It investigates the development, meanings and manifestations of contemporary forms of populism and explores the synergies and contradictions between the values and practices of populism and community development. Contributors examine the ways that the ascendancy of right-wing populist politics is influencing the landscapes within which community development is located and they offer new insights on how the field can understand and respond to the challenges of populism