Resumo: Este estudo teve como objetivo compreender as disposições que envolvem as dinâmicas sucessórias em estabelecimentos rurais da pecuária familiar no município de Jaguarão/RS. A pesquisa consiste em um estudo de natureza qualitativa baseado no uso da entrevista em profundidade como instrumento da coleta de dados. Foram realizadas 31 entrevistas, das quais 29 com pecuaristas familiares e duas com agentes do serviço oficial de extensão rural local. Os dados foram tratados pela técnica de análise de conteúdo. O marco teórico está centrado na análise das singularidades do pecuarista familiar e da questão da sucessão geracional, partindo da perspectiva sociológica centrada no patrimônio de disposições de Lahire. Os resultados destacaram que a realidade e o contexto sociocultural que envolve os estabelecimentos familiares são fatores que interferem diretamente na reprodução social dessas famílias. Dois aspectos são primordiais para a sucessão geracional: o gostar da atividade e a vocação para exercer tal ofício. De acordo com os resultados, não há um padrão sucessório definido na pecuária familiar. Nos estabelecimentos que contam com potenciais sucessores, a tendência é seguir com a atividade pecuária; já naqueles onde não há perspectiva de sucessão, os caminhos apontados são o abandono, a venda e/ou o arrendamento das propriedades.
Resumo: Situado no extremo sul do Brasil, o município de Jaguarão tem na produção de ovinos e de bovinos, em regime de criação extensiva, duas tradicionais vocações agropecuárias. Não obstante, desde os últimos dez anos constata-se, em seu interior, a exemplo do que ocorre em outras localidades pertencentes ao bioma Pampa, uma transformação importante do ponto de vista social, paisagístico e ambiental. Ela está relacionada aos efeitos produzidos pela expansão da área cultivada de soja, fato que supôs a conversão de aproximadamente 37 mil hectares, predominantemente de pastos nativos, em áreas dedicadas a essa cultura. Neste estudo nossa atenção envolveu dois grandes objetivos. O primeiro foi analisar os impactos socioambientais da expansão da soja. O segundo foi refletir sobre a necessidade de políticas públicas para regulamentar o plantio dessa cultura em Jaguarão. Em ambos os casos nos valemos da abordagem narrativa realizada a partir de entrevistas com produtores rurais e outros atores locais. Constatou-se a existência de duas grandes orientações narrativas. De um lado, a posição de atores locais que argumentam a necessidade de uma política reguladora, de outro, os que se posicionam contra, alegando que tal cultivo traz desenvolvimento para Jaguarão e para a região.
La expansión de la soja (Glycine max) es un fenómeno de grandes proporciones en Brasil, resultado de décadas de políticas dirigidas a cultivos destinados a la exportación. El artículo expone dicho proceso a partir de estudio de caso realizado en el municipio de Jaguarão, en el extremo meridional del país. Consiste en una zona fisiográfica (bioma Pampa), que posee un escaso número de unidades de conservación si se compara con los demás biomas brasileños. El municipio de Jaguarão tuvo en los últimos años la conversión de 37.000 hectáreas de su área en cultivos de soja, cultivadas en su mayoría por agricultores provenientes de otras regiones del estado de Rio Grande do Sul. Estos agricultores presentan una trayectoria de vida ligada a la agricultura y especialmente al cultivo de la soja. El foco de la investigación fue analizar la percepción de los actores locales, en relación con la expansión de los cultivos de soja en el municipio, mediante el análisis documental y entrevistas semiestructuradas. El estudio demuestra la gran distancia que separa a defensores y detractores de lo que se vino a llamar «sojización» de la agricultura. Los argumentos a favor se basan en una presunta generación de empleo y renta en el ámbito local. En el extremo opuesto están los que denuncian las alteraciones en el paisaje, aumento en el uso de agrotóxicos, destrucción de los campos nativos, de la biodiversidad, de los recursos hídricos y de una cultura ligada a la ganadería extensiva y el manejo sostenible de los recursos naturales. Se constató que, con la expansión de la soja, la capacidad de reproducción del modo de vida local se vio afectada por la dinámica de los cultivos de soja, con cambios en el uso de los recursos naturales y en el comportamiento productivo habitual. ; The soybean expansion (Glycine max) is a phenomenon of great proportions in Brazil, as a result of decades of policies geared towards export crops. The present article approaches this process from a case study carried out in Jaguarão, a town located in the extreme south of the country. It is a physiographic area (Pampa biome) that has a small number of conservation units compared to other Brazilian biomes. The town of Jaguarão has in recent years converted 37,000 hectares of its area into soybean crops, cultivated in the majority by farmers coming from other regions of the state of Rio Grande do Sul. These farmers have a life trajectory linked to agriculture and especially to the soybean crop. The focus of the research was to analyze the perception of the local actors, making use of documentary analysis and semi-structured interviews. The study showed the great distance that separates defenders and detractors from what has been called agricultural «soyzation». Arguments in favor focus on a supposed job creation and income generation at the local level. At the opposite extreme, there are positions that denounce changes in the landscape, increased use of agrochemicals, destruction of native land, biodiversity, water resources and of a culture linked to extensive livestock and sustainable management of natural resources. It was verified that with the soybean expansion, the reproductive capacity of the local way of life was affected by the dynamics of soybean crops, with changes in the use of natural resources and habitual productive behavior. ; L'expansion du soja (Glycine max) est un phénomène de grande ampleur au Brésil et ce phénomène est le résultat de décennies de politiques promouvant les cultures d'exportation. Cet article aborde ce processus-ci à partir d'une étude de cas réalisée dans la commune de Jaguarão, dans l'extrême sud du pays. Il 'agit d'une zone physiographique (biome Pampa) qui possède un nombre limité d'unités de conservation, par rapport aux autres biomes brésiliens. La commune de Jaguarão a converti ces dernières années 37 000 hectares de sa superficie à la production de soja, que sont cultivées, dans la majorité de cas, par des agriculteurs provenant d'autres régions de l'État de Rio Grande do Sul. Ces agriculteurs-ci ont une trajectoire de vie liée à l'agriculture et, en particulier, à la culture du soja. L'objectif de cette recherche est d'analyser la perception des acteurs locaux par rapport à l'expansion des cultures de soja dans la municipalité, à l'aide d'analyses documentaires et d'entretiens semistructurés. L'étude a montré la grande distance qui sépare les défenseurs et les détracteurs de ce qu'on appelle le processus de production de soja et le milieu rural. Les arguments en faveur de l'expansion de cette culture-ci sont axés sur la création supposée d'emplois et de revenus à l'échelle locale. À l'extrême opposé, il y a des producteurs qui dénoncent les changements dans le paysage, l'augmentation de l'utilisation des pesticides, la destruction des campagnes, de la biodiversité et des ressources en eau. Les producteurs que critiquent l'expansion du soja dans la région à l'étude soulignent aussi l'influence négative de ce processus sur les cultures traditionnelles et de l'élevage extensif qui ont une tendance à s'amoindrir ; ainsi que sur la gestion durable des ressources naturelles. Le travail réalisé a permis de vérifier que l'expansion du soja, nuise la capacité de reproduction du mode de vie local, qui a été affectée par la dynamique liée à la dite culture, un processus qui a provoqué également de changements dans l'utilisation des ressources naturelles et dans le comportement productif traditionnel. ; A expansão da soja (Glycine max) é um fenômeno de grandes proporções no Brasil, resultado de décadas de políticas voltadas para culturas destinadas à exportação. Esse artigo aborda esse processo a partir de estudo de caso realizado no município de Jaguarão, no extremo sul do país. Trata-se de zona fisiográfica (bioma Pampa) que possui um escasso número de unidades de conservação, se comparada aos demais biomas brasileiros. O município de Jaguarão teve nos últimos anos a conversão de 37.000 hectares de sua área em lavouras de soja, cultivadas em sua maioria por agricultores provenientes de outras regiões do estado do Rio Grande do Sul. Esses agricultores apresentam uma trajetória de vida ligada à agricultura e especialmente à cultura da soja. O foco da pesquisa foi analisar a percepção dos atores locais, com relação a expansão das lavouras de soja no município, fazendo uso de análise documental e de entrevistas semiestruturadas. O estudo mostrou a grande distância que separa defensores e detratores face o que vem sendo chamado de processo de «sojização» da agricultura e do meio rural. Argumentos em favor centram-se numa suposta geração de emprego e renda no âmbito local. No extremo oposto, constam posições que denunciam alterações na paisagem, aumento no uso de agrotóxicos, destruição de campo nativo, da biodiversidade, dos recursos hídricos e de uma cultura ligada à pecuária extensiva e ao manejo sustentável dos recursos naturais. Constatou-se que com a expansão da soja, a capacidade de reprodução do modo de vida local foi afetada pela dinâmica das lavouras de soja, com alterações no uso dos recursos naturais e no comportamento produtivo habitual. ; 53-58 ; agroalimentaria@ula.ve / ciaal.ula@gmail.com ; moninardini@yahoo.com.br ; saccodosanjos@gmail.com ; jimena.gonzalez@miem.gub.uy ; Semestral ; http://erevistas.saber.ula.ve/agroalimentaria
