O texto apresenta uma resenha do livro "Maconheiros, fumons e growers: um estudo comparativo do consumo e de cultivo caseiro de canábis no Rio de Janeiro e Buenos Aires", do antropólogo Marcos Veríssimo, que é fruto de sua tese de doutorado. Nele o autor mapeia, descreve e compara etnograficamente as práticas inerentes às experiências culturais do consumo e cultivo de cannabis das duas cidades, enfatizando suas proximidades e distanciamentos a partir dos usos, cultivos e representações conceituais sobre esse fenômeno. É interessante salientar que nas duas cidades comparadas, assim como em muitas outras cidades do mundo, tanto os usos quanto o plantio de maconha são proibidos por lei. Portanto, para aderir práticas e sistemas que torna o maconheiro um cultivador, existe uma relação com a autodisciplina para se libertar, fechando-se num círculo que constrói sua independência do mercado ilícito de maconha. Sendo assim, Marcos Veríssimo, a partir de um tema original, analisa e explana a relação entre cultivadores e maconha de forma igualmente original, pioneira, inovadora e criativa.
Este artigo tem como objetivo fazer um ensaio analítico das noções de indivíduo e sociedade da sociologia clássica, enfatizando Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber, e refletir como tais noções podem ter sido construídas em relações de continuidades e descontinuidades com a antropologia filosófica nas ciências sociais, principalmente de Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau. Para isso, foi feita uma revisão bibliográfica não com o intuito de comparar, mas de aproximar e distanciar tais autores por meio do apontamento genérico de suas principais ideias e reflexões. Ao final dessa breve discussão bibliográfica, espera-se que seja possível identificar as continuidades e descontinuidades nos pensamentos expostos desses autores, assim como mostrar que as noções de indivíduo e sociedade da sociologia clássica podem ter sido influenciadas pelas continuidades e descontinuidades inerentes ao debate da antropologia filosófica nas ciências sociais.
A partir do desenho de uma pesquisa qualitativa e da perspectiva de um estudo de caso, esse trabalho teve por objetivo construir um ensaio teórico analítico sobre a possibilidade da "Marcha da Maconha" no Brasil ser configurada como um movimento social em busca de reconhecimento e inclusão. Com base nas perspectivas que possibilitam o estabelecimento de reconhecimento intersubjetivo, busca-se entender como ocorre o desenvolvimento da consciência do significado das ações sociais relativos à interação humana intrínseca à "Marcha da Maconha". A ação dialógica, no âmbito dos movimentos sociais, pode ser um dos principais meios para construir o repertório da ação coletiva do movimento e formar consensos em busca de validade. Portanto, ao entender que os indivíduos se movem por valores e pela busca do que é válido, percebe-se que a solidariedade imanente ao movimento se correlaciona com critérios de justiça inclusiva, onde essas pretensões políticas transformadas em performance travam uma luta pela busca de reconhecimento, respeito e inclusão.
O tema do trabalho é a mediação cultural em espaços institucionais e os impactos proporcionados pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICS) nesse processo. O texto analisa as políticas culturais em unidades de informação entendidas como espaços culturais. Parte inicialmente da discussão dos próprios termos "Unidades de Informação" e de "Centros Culturais", considerando a hipótese de que a incorporação de concepções mais alargadas do conceito de cultura e a presença cada vez maior das TICs ampliam a convergência entre esses espaços. O foco concentra-se nas potencialidades de formação e de empoderamento cultural proporcionadas pelas políticas desenvolvidas por estas instituições. Nessa perspectiva, analisa os exemplos dos Pontos de Cultura, no Brasil, e o Sistema de Bibliotecas Públicas de Medellín, na Colômbia. Conclui que essas experiências permitem visualizar possibilidades de constituição de novas ações e cadeias de mediações da cultura, numa perspectiva muito mais dialógica que impositiva.
A modernidade é um tema central na sociologia e ocupa especial lugar no pensamento de autores clássicos, como Durkheim, Marx, Weber e Simmel. Focando na tradição alemã, Marx produz uma discussão acerca da modernidade diretamente ligada aos aspectos econômicos e industriais, ao apontar as mazelas promovidas por esse processo de avanço do capitalismo propriamente moderno, cujo efeito direto sobre a classe proletária representava o combustível necessário à revolução a ser empreendida por ela. Seus contemporâneos, Weber e Simmel, possuem uma visão particular acerca do fenômeno da modernidade. Apesar de produzirem em semelhante época, ambos os autores, ao tratarem deste fenômeno, vão ter visões com semelhanças e dissensos em suas discussões. Diferentemente de Marx, os dois autores possuem uma visão pessimista da modernidade que discutiremos ao longo deste breve artigo, destacando os seus pontos de confluência e dissonância, em especial as suas conclusões acerca dos conceitos da Jaula de Ferro e Tragédia da Cultura.
O presente artigo aborda os meios de controle e sujeição exercidos mediante o emprego das tecnologias digitais de comunicação. A pesquisa tomou por base o pensamento do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han exposto principalmente nas seguintes obras: No enxame: perspectivas do digital, Sociedade da Transparência e Psicopolítica – O neoliberalismo e as novas técnicas de poder. A análise que o referido pensador realiza acerca dos meios técnicos, dos quais a sociedade atual dispõe, aponta para o fato de que as ferramentas digitais de interatividade atuam pelo menos de duas formas: atraindo os indivíduos para a contínua presença e participação no ambiente virtual e influenciando na produção de subjetividade dos usuários. Segundo o autor, a presença contínua no ambiente virtual modifica a experiência intersubjetiva das pessoas implicando na formação de perfis e tendências comportamentais que reforçam a sujeição e impedem a resistência. Esse seria o esquema básico de uma nova forma de dominação do homem na civilização tecnológica, forma essa que Byung-Chul Han denomina psicopolítica.
A política integral do Estado não se esgota no exercício de sua função repressiva. Essa política não será apreendida de forma adequada se desconsiderar a interdependência que suas funções ostentam entre si. Num Estado capitalista, do tipo que cria dependência, a dificuldade de acumular capital internamente influi na estruturação e na forma de comportamento entre as classes, com reflexos nos padrões de dominação política. Um dos seus traços mais característicos assenta na produção de um enorme contingente de força de trabalho marginalizada, inconfundível com o exército industrial de reserva, e que funciona como estratégia de controle social e político. No contexto brasileiro acresce, à hierarquização que decorre da divisão em classes, a sobreposição daquela que deriva da cor da pele. A recente, parcial e já superada redenção social levada ao efeito, fundamental, por meio do incremento da capacidade de consumo – reconhecido, de modo equívoco, como período pós-neoliberal -, paradoxalmente, em vez de atuar em sentido contrário, tem remarcado um traço constitutivo do campo burocrático brasileiro, melhor compreendido como processo de longa duração: o Estado brasileiro nunca tomou seu povo com a reverência que mesmo uma ordem jurídica limitadamente liberal preconiza.
Análises desenvolvidas por Marx no século XIX ainda suscitam debates e colocam em discussão diversas categorias marxianas que não foram conceituadas em sua plenitude. Aqui trataremos de um desses conceitos, as Classes sociais. Proponho uma leitura do conceito de Classes proposto por Marx em três obras distintas e que são consideradas essenciais para a compreensão de sua teoria: O Capital, O Manifesto Comunista e O 18 de Brumário de Luís Bonaparte. Apesar de possuírem objetivos diferenciados, acredito que as três obras possuem elementos de confluência em sua argumentação sobre as classes sociais. Tento com isso promover um trabalho de caráter panorâmico, mas dotado de um esforço teórico com intuito de alargar as possibilidades de uso das categorias marxianas, em especial ao que concerne o estudo das classes sociais.
O artigo analisa a política nacional de saúde mental do Brasil, objetivando efetuar um balanço sobre a atual situação da Reforma Psiquiátrica brasileira, apontando os marcos históricos e os dados da conjuntura política recente, enfatizando os avanços, limites e desafios. Foi realizada pesquisa documental através de documentos oficiais, portarias e bancos de dados do Sistema Único de Saúde, bem como de revisão da literatura especializada. Os resultados apontam, as contradições do processo de construção da rede de atenção psicossocial da política pública no âmbito do SUS, ressaltando, os dilemas das gestões públicas dos últimos tempos e, em particular, com o desmonte da Reforma Psiquiátrica, com a nova política de saúde mental com investimento nos modelos manicomial e proibicionista e os desafios postos para o trabalho profissional do Serviço Social.
Mestrado em Gestão e Estratégia Industrial ; O presente estudo consistiu em um projeto prospetivo que envolveu os principais "stakeholders" do setor das energias renováveis marinhas com o objetivo de explorar cenários preliminares focados na evolução desta indústria. Neste sentido, o estudo pretendeu melhorar o conhecimento geral sobre potenciais sinergias entre as energias renováveis marinhas e a indústria da construção naval, e destacar de forma holística e integrada os aspetos socioeconómicos, políticos, ambientais e tecnológicos. A análise centrou-se no contexto Europeu num horizonte temporal de 15 anos. Para esse fim, foi aplicada a análise morfológica, uma vez que é uma abordagem simples e sistemática para construção e exploração de possíveis futuros. Neste contexto, o software Morphol foi utilizado para obter o esqueleto dos cenários o que permitiu identificar 24 combinações plausíveis, ou cenários para possíveis futuros. Posteriormente, a partir deste conjunto de cenários, foram selecionados apenas 3 com base no método "extreme-world" que consiste em criar mundos extremos, colocando todas as incertezas positivas em um cenário e todas as negativas em outro cenário. Finalmente, obteve-se um cenário, denominado "blue-ocean", onde há uma simbiose perfeita entre as energias renováveis marinhas e a indústria de construção naval. O segundo cenário, denominado "different-worlds", é essencialmente o oposto do primeiro e baseia-se na crença de que o conservadorismo e tradicionalismo associados ao setor da construção naval impedem esta indústria de alargar as suas atividades a novos e mais inovadores campos. Por último, o terceiro cenário, denominado "business-as-usual", reúne algumas características dos dois cenários anteriores e, portanto, reflete uma realidade intermédia. ; The present study is a prospective joint project with key stakeholders aiming at exploring draft scenarios focused on the renewable energy industry. In this framework, the goal of the study was to improve the general knowledge and understanding on potential synergies between marine renewables and the shipbuilding industry, in a holistic and integrative manner that highlights socio-economic, political, environmental and technological aspects. The analysis is focused on the European context, and is based on a time horizon of 15 years. To this end, the morphological analysis was applied since it is a fairly simple and systematic approach to build and explore possible futures. In this context, the Morphol software was used to obtain the skeleton of the scenarios. Eventually, 24 plausible combinations, or future possible scenarios, were found. Afterwards, from this set of scenarios, three were selected based on the extreme-world method, which consists of creating extreme worlds by putting all the positive uncertainties in one scenario and all the negative in another scenario. Finally, we end up with one scenario, named "blue-ocean", where there is a perfect symbiosis between marine renewables and the shipbuilding industry. Moreover, the second scenario, named "different-worlds", is essentially the opposite of the first one and relies on the belief that the conservatism and reluctance associated to the traditionalism of shipbuilding prevents the industry from extending its activities into new and more innovative fields. Eventually, the last scenario, named "business-as-usual", gathers some characteristics of the two previous scenarios and so it reflects an in-between reality. ; info:eu-repo/semantics/publishedVersion
O presente artigo tem como objetivo problematizar elementos históricos que construíram a política nacional de saúde integral de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais – LGBT, tendo como referência os marcos jurídico-legais de cidadania e direitos de LGBT, no que tange a saúde e diversidade sexual. Essa questão coloca em cena diferenças e significados que vão, por um lado, desde as potencialidades desses espaços como produtores de sentidos e direitos, até, por outro, as resistências, conflitos e preconceitos pelos seus trabalhadores, no cotidiano desse mesmo cuidado, quando referenciados pela temática da diversidade sexual e das identidades e expressões de gênero. Este estudo contribui para a área de serviço social na medida em que organiza de forma sistemática as chaves histórico-interpretativas do campo da diversidade sexual e de gênero para a formação e o trabalho profissional.