O contexto político, social e econômico determina as condições materiais da formação cultural do indivíduo e influencia a constituição de sua consciência crítica e responsabilidade social. O objetivo deste relato é descrever as experiências didáticas e as reflexões geradas a partir de discussões em sala de aula com alunos em disciplinas dedicadas ao acesso à informação nos cursos de Biblioteconomia da Universidade Estadual Paulista - UNESP, Estado de São Paulo, e Universidade Federal de Alagoas - UFAL, Estado de Alagoas, a saber: Disseminação da Informação, ministrada em 2007 e 2010, Fontes e Disseminação da Informação I, ministrada em 2008 e 2009, além de Biblioteca e Ação Cultural, realizada em 2008 e 2009. Percebeu-se, a partir da experiência em sala, que os alunos de Biblioteconomia dispõem de um relativo conhecimento das instituições bibliotecárias e de seus serviços; muitos, aliás, relataram que não conheciam os principais serviços de uma biblioteca antes de cursarem as respectivas disciplinas.
O ensino de epistemologia em cursos de graduação e de pós-graduação é essencial para a compreensão do desenvolvimento de conhecimento de uma ciência. Na pós-graduação em Ciência da Informação no Brasil, a epistemologia tem apresentado comumente um objetivo pedagógico orientado para a apropriação de conceitos elementares como os de "informação" e "conhecimento". Dessa forma, o objetivo geral deste trabalho é relatar o desenvolvimento de uma disciplina de epistemologia vinculada a um programa de pós-graduação em Ciência da Informação no Brasil. Os objetivos específicos procuram verificar as hipóteses mencionadas: a) identificar os principais objetos e questões do pensamento epistemológico; b) verificar a presença dos objetos e das discussões epistemológicas em espaços de pensamento na Ciência da Informação; c) avaliar as escolhas didáticas para condução da disciplina. O método específico das abordagens teóricas e didáticas da disciplina foi a observação por análise e síntese em direção ao questionamento fundamentado. Como resultado principal da reflexão sobre esse relato, propõe-se um modelo teórico e didático construído a partir da reflexão sobre a disciplina "Epistemologia da Ciência da Informação", oferecida no 2° semestre de 2021 ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP) de Marília. A partir dos resultados da proposta, concluiu-se que é possível reconsiderar a importância dos procedimentos didáticos também na pós-graduação para manter mestres e doutores engajados, comprometidos e motivados a enfrentar desafios teóricos propostos pela epistemologia e, assim, revisitar suas próprias práticas de construção do conhecimento, entender os desafios, os resultados e os impactos da ciência.
Com o avanço da tecnologia e do uso das redes sociais, a disseminação de desinformação e fake news se intensificaram. Estes temas têm recebido cada vez mais atenção no debate público democrático. A discussão acerca destes temas no âmbito acadêmico, principalmente em relação a formação de bibliotecários, responsáveis pela mediação da informação, se torna fundamental para entender se os futuros profissionais estão habilitados para trabalhar com a desinformação em sua atuação profissional. Portanto, este artigo tem como objetivo geral averiguar se e como as universidades públicas do Estado de São Paulo que ofertam o curso de Biblioteconomia abordam questões relacionadas à desinformação. Para alcançar os objetivos, foi realizada uma pesquisa quali-quantitativa, a partir de uma revisão bibliográfica sobre os conceitos "desinformação" e "fake news", posteriormente, foi elaborado e enviado um questionário misto para o corpo docente das universidades. Para análise dos resultados obtidos, foi utilizada a metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo. A revisão bibliográfica aliada ao questionário permitiu compreender se e como os cursos de Biblioteconomia das instituições escolhidas abordam os temas supracitados. Constatou-se que dentre as universidades do Estado de São Paulo, não há oferta de uma disciplina cujo objetivo é abordar a desinformação e as fake news, apesar disso, existe a abordagem e debate em sala de aula em outras disciplinas do curso. Logo, nota-se que os docentes possuem uma formação continuada e detém conhecimento sobre a desinformação e as fake news, tanto no âmbito de identificação quanto estratégias de enfrentamento. Apesar disso, estas universidades precisam de atualização para inserir em seu currículo disciplinas que consigam atender as demandas emergentes da sociedade e da profissão.
O objetivo geral desta pesquisa é o de analisar a aplicação do ensino de filosofia nos cursos de Biblioteconomia no Brasil. Para compreender essa importante relação entre Biblioteconomia e o ensino de Filosofia, realizou-se um levantamento inicialmente quantitativo, para que, posteriormente, se apresente reflexões qualitativas que analise o impacto de disciplinas humanísticas na formação dos bibliotecários. Com base nesses estudos, foi possível primeiro compreender que a importância dessas disciplinas filosóficas nos cursos da Biblioteconomia, sugere a capacitação profissional para além do âmbito técnico, possibilitando que os profissionais atuem em dimensões sociais, políticas e culturais, desenvolvendo uma visão crítica em relação às organizações sociais e ambientes laborais. A biblioteconomia, como um ramo da ciência da informação, se fundamenta na sua capacidade de registrar, guardar, estocar informações cruciais para o desenvolvimento do conhecimento. E, o ensino da Filosofia nestes cursos, estimula através da sua exigência de demonstração, racionalização e exposição a coragem dos profissionais da biblioteconomia a pensar corretamente sobre assuntos desta área do saber.
A Organização do Conhecimento, mais precisamente a Organização da Informação, contempla procedimentos de representação de objetos informacionais por meio de conceitos traduzidos em linguagens especializadas, o que permite a futura recuperação e uso dos documentos. Nesse cenário, tem-se a extração da informação dos documentos, as chamadas palavras-chaves, que perpassa práticas, estratégias e métodos que viabilizam a análise e o tratamento documental. Entretanto, o tratamento e a análise documentária realiza-se no nível textual, e tendo que todo texto é a manifestação de um discurso, para seu entendimento e representação é preciso passar pelos processos de significação que é verificado através dos recursos textuais, da enunciação e do próprio discurso presente no plano da expressão, entende-se que a análise documental tradicional se restringe à seleção de palavras-chave, que é reduzido na análise semiótica ao nível do signo como imagem-tema, prática repetitiva e condicionada do fazer profissional. A Organização do Conhecimento é um campo que envolve fatores técnicos, metodológicos, práticos e epistemológicos, que permitem debates sobre o conhecimento e sua organização e representação, assim como os processos e produtos para efetivar as atividades de tratamento, análise, descrição e produção de instrumentos capazes de categorizar e indexar objetos informacionais. Sendo assim, é importante o debate sobre o procedimento de análise e tratamento documental e para sua interpretação, recorre-se as teorias semióticas que abordam o discurso em que se verifica o sentido por meio do percurso gerativo da expressão, evidenciando a relação entre signo, frases e proposições na elaboração do enunciado e o sentido manifestado na enunciação constatado pela coesão, coerência e congruência, possibilitando o reconhecimento da significação que se realiza no nível do discurso. Dessa forma, busca-se compreender a noção de texto e da representação da informação como parte de um discurso. Para tanto, entende-se que a semiótica de linha francesa, principalmente a proposta por Greimas, apresenta recursos metodológicos e técnicos para analisar e compreender a noção de texto como integrante do discurso, sendo toda representação da informação uma parte do discurso decodificada em palavras-chave utilizadas na busca e recuperação dos objetos informacionais. O artigo apresenta metodologia qualitativa, pautada na análise de conceitos e na pesquisa bibliográfica realizada na base de dados Dialnet de fundamentos teóricos sobre a noção de texto, tratamento e análise documental, indexação, enunciado, enunciação e discurso. Conclui-se que a semiótica discursiva é capaz de oferecer para a Organização e Representação da Informação e do Conhecimento mecanismos de interpretação à base semiótica, a fim de garantir que promova relações semânticas e cognitivas com as propriedades científicas do documento para tratar de modo mais efetivo e contundente a informação manifestante no nível discursivo.
Na tentativa de compreender como determinados grupos e campos especializados utilizam a linguagem para a recuperação de informações, a análise de domínio propõe ser fundamental conhecer o contexto, as necessidades informacionais, como essa informação é utilizada, como essa comunidade se comunica, a estruturação dos discursos, tornando possível a organização e a recuperação do conhecimento e da informação de uma forma pragmática. Assim, o objetivo é analisar teoricamente a noção de análise de domínio no processo de representação da informação, explorada sob a perspectiva das teorias da pragmática, especificamente acerca dos efeitos de sentido decorrentes do ato de fala. A presente pesquisa caracteriza-se por ser qualitativa, bibliográfica e de abordagem interdisciplinar na efetivação crítica das análises. A análise de domínio demonstra que a linguagem de organização e representação se ajusta ao contexto e à comunidade discursiva, portanto a produção de efeito de sentido para os pares dialogarem efetiva-se através dos fundamentos linguístico-pragmáticos. A base da nova abordagem da análise do domínio, denominada aqui etnográfico-pragmática, é justamente uma compreensão dos fundamentos e do papel dos estudos pragmáticos.
O profissional bibliotecário tem como objeto de estudo a informação registrada, assim como os processos de análise, descrição, recuperação e mediação destas. Compreende-se que toda informação veiculada em um suporte é uma manifestação da linguagem humana, logo tem-se que a linguística, ou ciência da linguagem, tem muito a oferecer na formação do bibliotecário. Parte-se do levantamento das universidades brasileiras em funcionamento que oferecem o curso de Biblioteconomia, tendo como objeto de análise as faculdades que ministram disciplinas correlatas à linguística, comunicação e informação, e que tenham disponíveis a ementa e o plano de ensino. O objetivo é analisar o uso da linguística na formação profissional do bibliotecário, para isto, serão elencadas disciplinas voltadas às técnicas biblioteconômicas em comum entre os cursos com fundamentação na linguística e separados entre as vertentes teóricas da linguagem. Nota-se que linguística como disciplina não é ofertada pela maioria dos cursos, além de não ser a base na estruturação das disciplinas correlatas. Conclui-se que a dedicação ao estudo linguístico ainda é introdutório, evidenciando a necessidade de estudos que aprofundem essa aproximação com a linguística.
Dentre os fundamentos essenciais para a formação do profissional da informação estão os conteúdos ligados às teorias da linguagem, presentes principalmente nas disciplinas relacionadas à Organização da Informação e do Conhecimento. A semiótica por ser uma ciência que estuda os processos de significação e as linguagens, liga-se ao ensino de biblioteconomia. Assim, o objetivo desta pesquisa é analisar os conteúdos e correntes teóricas da semiótica nos cursos de graduação em Biblioteconomia no Brasil. Para isso, essa pesquisa, de abordagem qualitativa e natureza teórica, utiliza o método da pesquisa documental a partir de um levantamento dos cursos de biblioteconomia no Brasil na plataforma e-mec. Como resultado, apresenta-se uma análise dos planos de ensino, ementas e bibliografias das disciplinas analisadas, identificando os principais teóricos e abordagens presentes no ensino de biblioteconomia. Conclui-se que as bibliografias das disciplinas voltam-se mais para obras que façam introdução à semiótica geral e suas diversas teorias, uma abordagem mais adequada para um primeiro contato com a teoria. Assim, o contato com os clássicos da semiótica fica restrito ao pensamento dos comentadores disponíveis.