O propósito desse artigo é apresentar o trabalho realizado por José Chasin na elucidação de um aspecto central do pensamento de Marx, que é a crítica à política. Não se trata só da conhecida questão do fim do Estado, uma vez que essa se coloca no interior de uma determinação mais ampla que é a da necessidade, da origem e do significado da política, reflexão desenvolvida por Marx, que conduz à consequente negação da politicidade enquanto atributo inerente à existência social, aspecto que Chasin procura explicitar na obra do autor e que é fundamental para o resgate do sentido profundo da proposição marxiana, qual seja, a possibilidade da emancipação humana, desentranhada das ilusões sobre as quais se sustenta a concepção tradicional da política.
Pretende-se aqui desenvolver os elementos presentes no pensamento de Feuerbach que sustentam uma "ética da sensibilidade" como questionadora de uma ética racionalista, como, por exemplo, a ética do dever de talhe kantiano. A despeito dos limites da filosofia de Feuerbach, reiteradamente identificados por Marx no que se refere à inconciliabilidade no pensamento do autor entre materialismo e história - o que o joga no terreno de um idealismo do gênero humano - , há que se destacar a significação de Feuerbach no percurso de contraposição à mistificação idealista, ao ressaltar a dimensão da corporeidade e dos afetos, ainda que sejam estes tidos em sua naturalidade, como elementos inalienáveis e incontornáveis do agir humano, portanto, insurgindo contra uma forma seca de racionalismo que pretende dicotomizar razão e sensibilidade. O objetivo de nosso trabalho é acompanhar os fundamentos da filosofia sensualista de Feuerbach que lhe permitem concluir por um antropoteísmo, "o coração elevado a entendimento", que se contrapõe à separação entre sensibilidade e entendimento e à sobreposição do segundo sobre o primeiro. Recuperando a significação dos sentidos e das afecções, o autor pretende responder ao idealismo moderno desde Descartes, entendendo-o como uma derivação da teologia que tem a sua consumação na filosofia de Hegel. A afirmação do ponto de partida da filosofia naquilo "que no homem não filosofa", qual seja, a sensibilidade, a finitude, a afecção, prepara o terreno sobre o qual Marx desenvolverá, uma vez feito o apontamento crítico dos limites feuerbachianos, a compreensão da realidade social, incluindo elementos que nos possibilitam pensar a esfera do agir moral em uma perspectiva materialista.