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A Segunda Guerra Mundial desencadeou no mundo várias forças, que estavam, antes, mais ou menos contidas ou ocultas e passaram, a partir de então, a atuar poderosa, senão mesmo irresistivelmente, na determinação dos próprios destinos da humanidade. Uma dessas forças foi, sem dúvida, o movimento anticolonialista, que em um quarto de século, como se sabe, alterou profundamente o mapa-múndi. Outra — não sem estreita relação com a que se acaba de mencionar — é a intensa aspiração a uma vida melhor que avassaladoramente se apoderou nas nações do chamado Terceiro Mundo. Foi o que o Presidente Nixon chamou "a revolução das grandes massas das grandes expectativas", ou seja, em nosso entender, a legítima reivindicação dos povos subdesenvolvidos por um lugar ao sol, que nasce, obviamente, para iluminar e aquecer a todos e não apenas a alguns privilegiados.

Texto publicado na RSP de set/dez de 1971 (vol. 106 - n. 3)

Em 1955, fui distinguido com um honroso convite para planejar, dirigir e executar a reforma administrativa de Goiás. Confesso que relutei em aceitar tal encargo. Como Técnico de Administração do DASP, sem qualquer experiência ou vinculação política, receava que um trabalho de profundidade e de cunho altamente moralizador, como o que eu iria levar a efeito, pudesse ser prejudicado pelas incompreensões e por interesses políticos contrariados. Logo após minha chegada àquele Estado, nos meus primeiros contatos com o Governador, verifiquei, para minha tranquilidade, que eu estava inteiramente equivocado. Sua Excelência não só me prestigiou, por todas as formas e em todas as oportunidades, como jamais permitiu interferência de qualquer natureza no meu trabalho.

As atividades administrativas, notadamente as do setor público, não se caracterizam habitualmente pela racionalidade dos métodos de trabalho utilizados. Disso decorre, inexoravelmente, senão ineficiência, pelo menos a não desejável eficiência, além de tornarem as atividades onerosas em demasia. É tradicional afirmar-se — em tom dogmático e professoral — que a máquina administrativa brasileira está emperrada e o seu funcionamento é notoriamente deficiente. Isso pode ser considerado um prognostico, nem sempre fidedigno e sempre sem nenhuma fundamentação técnica. Na realidade, trata-se apenas de uma observação superficial, porquanto não baseada em prévia análise dos fatos de que se originou a atual situação administrativa brasileira. Isso porque as técnicas de administração ainda não estão estratificadas entre nós, constituindo mesmo honrosas exceções quando adotadas na prática, em substituição ao costumeiro empirismo.

Desde o início dos anos 50, a modernização administrativa vem sendo cada vez mais reconhecida como parte integra nte do processo de desenvolvimento. A capacidade de assumir novas tarefas, lidar com complexidade, compreender o conflito, solucionar novos problemas, mobilizar recursos, aprender com a experiência e a incerteza e lidar com crises e turbulências depende de uma capacidade administrativa significativamente ampliada, baseada em grande parte em maior profissionalização, burocratização, mecanização e talento administrativo. Como os sistemas administrativos mudam lentamente e de maneira conservadoramente crescente, a reação e a adaptação naturais são inadequadas para se enfrentarem os desafios do desenvolvimento. É necessário algo mais rápido e mais radical: programas organizados de reforma administrativa nos principais setores de desenvolvimento, particularmente nos canais de menor reação, mais entorpecidos, que tolhem o progresso e os esforços de desenvolvimento em outros pontos.

O Plano de Reforma da Administração Federal, instituído pelo Governo Sarney, surgiu num contexto especifico da vida brasileira. Após um longo período de governos autoritários, viu-se, a Nação como um todo, diante de uma circunstância de impossibilidade de continuar vivenciando praticas não condizentes com os anseios daqueles que a constituem. Os mais diversificados grupos e camadas sociais não escondiam suas insatisfações diante da condução, dos destinos do Brasil. Do banqueiro ao trabalhador, do político ao intelectual, os números de insatisfeitos aumentava a cada instante.

A opinião pública parece disposta não só a aceitar, senão a exigir que o Governo proceda, sem mais delongas, às chamadas reformas de base. Os grupos mais atuantes — os políticos, escritores, artistas, professores, os titulares das várias profissões liberais, jornalistas e vários outros — vão-se tornando pregoeiros cônscios desse imperativo nacional. Dentre as reformas chamadas de base, a agrária é considerada premente. No momento em que os problemas de abastecimento se agravam em todo o território nacional, sua necessidade parece mais aguda.