Faced with evidence of an anthropic global environmental crisis, the scientific community has been called on to design collectively a transition toward socio-ecological sustainability. The objective of this article is to describe academic discourses on sustainability in Latin America, on the basis of the analysis of the citation network of a sample of 93 Latin American intellectuals that have participated in these debates between 1970 and 2012. This review of citation networks is supplemented with a qualitative analysis of the contents of the thought of the most influential authors. Empirically, the study provides a cartography and a systematic analysis of the participation of Latin American intellectuals in global reflections on socio-ecological sustainability.The research covers three great periods: the first goes from 1970, when modern environmental concerns arise, to 1987, the year of publication of the Brundtland Report. The second period (1987-2002) begins with the moment when the idea of sustainable development was institutionalized and ends with the Johannesburg Conference, in which the Rio agreements ceased to influence global political priorities. The third period extends from 2003 to 2012, year of the Rio+20 Summit.These forty years have seen the gradual structuring of the academic field of sustainability in the subcontinent. On the one hand, the study observes Latin America's participation and the intensification of the field of study over time. On the other hand, it identifies the most important actors and subnetworks, as well as the institutions that have hosted the research projects, teams, and programs that have played a crucial role in shaping Latin American environmental thought. The findings of our research also show that many academic discourses are rather critical, calling for a profound transformation of current societies, and that those discourses have been developed in synergy with certain social movements that are struggling for justice and socio-environmental sustainability. ; Ante las evidencias de una crisis ambiental global de origen antrópico, la comunidad científica ha sido interpelada para diseñar colectivamente una transición hacia la sustentabilidad socioecológica. Este artículo propone caracterizar los discursos académicos sobre la sustentabilidad en América Latina, a partir de un análisis de la red de citas de una muestra de 93 intelectuales latinoamericanos que han participado en estos debates entre 1970 y 2012. Esta revisión de redes de citas se complementa con un análisis cualitativo del contenido del pensamiento de los autores más influyentes. Empíricamente, el estudio proporciona una cartografía y un análisis sistemático de la participación de los académicos latinoamericanos en las reflexiones globales sobre la sustentabilidad socioecológica.La investigación está secuenciada en tres grandes periodos: el primero se extiende desde 1970, con la emergencia de las preocupaciones ambientales modernas, hasta 1987, año marcado por la publicación del Informe Brundtland. Un segundo periodo (1987-2002) corresponde al momento de institucionalización global de la idea de desarrollo sostenible, hasta la Conferencia de Johannesburgo, donde los acuerdos de Río perdieron su influencia sobre las prioridades políticas globales. El tercer periodo va del 2003 al 2012, año de la Cumbre Rio+20.Durante estos cuarenta años, el campo académico de la sustentabilidad en el subcontinente se ha estructurado gradualmente. Se observa, por una parte, la participación de América Latina y la intensificación del campo de estudio con el paso del tiempo. Por otra parte, se identifican los actores y las subredes más importantes, así como las instituciones que han acogido los proyectos, los equipos y programas de investigación que han tenido un papel crucial en la composición de un pensamiento ambiental latinoamericano. Los resultados de la investigación también muestran que muchos discursos académicos son más bien críticos, dado que apelan a una transformación profunda de las sociedades actuales, y que están construidos en sinergia con ciertos movimientos sociales que luchan por la justicia y la sustentabilidad socioambiental. ; Diante as evidências de uma crise ambiental global de origem antrópica, a comunidade científica vem sendo interpelada a desenhar coletivamente uma transição à sustentabilidade socioecológica. Este artigo propõe caracterizar os discursos acadêmicos sobre a sustentabilidade na América Latina a partir de uma análise da rede de citações de uma amostra de 93 intelectuais latino-americanos que participaram desses debates entre 1970 e 2012. Esta revisão de redes de citações é complementada com uma análise qualitativa do conteúdo do pensamento dos autores mais influentes. Empiricamente, o estudo proporciona uma cartografia e uma análise sistemática da participação dos acadêmicos latino-americanos nas reflexões globais sobre a sustentabilidade socioecológica.A pesquisa está sequenciada em três grandes períodos: o primeiro compreende desde 1970, com a emergência das preocupações ambientais modernas, até 1987, ano marcado pela publicação do Relatório Brundtland. Um segundo período (1987-2002) corresponde ao momento de institucionalização global da ideia de desenvolvimento sustentável, até a Conferência de Johanesburgo, onde os acordos do Rio perderam sua influência sobre as prioridades políticas globais. O terceiro período vai de 2003 a 2012, ano da Conferência Rio+20.Durante esses quarenta anos, o campo acadêmico da sustentabilidade no subcontinente foi estruturado gradualmente. Observam-se, por um lado, a participação da América Latina e a intensificação do campo de estudo com o passar do tempo. Por outro lado, são identificados os atores e as sub-redes mais importantes, bem como as instituições que acolheram os projetos, as equipes e os programas de pesquisa que têm um papel crucial na composição de um pensamento ambiental latino-americano. Os resultados da pesquisa também mostram que muitos discursos acadêmicos são críticos, tendo em vista que apelam a uma transformação profunda das sociedades atuais e que estão construídos em sinergia com certos movimentos sociais que lutam pela justiça e pela sustentabilidade socioambiental.
Viajar é um modo efêmero de viver noutra cultura e aprender sobre os seus costumes e tradições. Os turistas cada vez mais procuram tornar as suas viagens autênticas e inesquecíveis e estão cada vez mais abertos a outros contextos socioculturais. Eles não são mais um mero espectador, mas um participante ativo na experiência turística (Otto & Ritchie, 1996). O turismo é de facto um conjunto de momentos, depois retratado em memórias que mantêm os turistas conectados aos destinos. A economia da experiência é, sem dúvida, uma tendência crescente, justificada pela globalização da informação, pela democratização da cultura, pela busca de desafios e pela urgência em viver momentos únicos (Pine & Gilmore, 1998; Jelinˇcic & Mansfeld, 2019). Os turistas querem saber mais sobre os destinos, tradições e património, procurando fontes fiáveis de informação. A aprendizagem e o turismo tornaram-se dois elementos indissociáveis, resultando num aumento exponencial de turistas culturais com diferentes motivações: espirituais, intelectuais e emocionais, que definem o seu perfil enquanto turistas. As principais atrações culturais dos destinos situam-se nos centros históricos. Aqui, monumentos, património e partilha de estórias estão concentrados. Contar histórias é um produto do turismo cultural, um meio de comunicação, um mecanismo para promover o potencial turístico dos destinos fomentando a conservação dos espaços, a consciência social, a partilha de conhecimento e a preservação da tradição (Gonçalves, Seabra, & Silva, 2017). As experiências turísticas memoráveis fomentam fortes ligações com destinos, fazendo com que os turistas queiram voltar, reviver momentos passados e paralelamente se tornem contadores de estórias compartilhando a sua própria experiência. O storytelling não se limita a relatar eventos. Ajuda os turistas a se conectarem com o destino visitado de forma sensorial, possibilitando um relacionamento mais próximo com a comunidade, os seus residentes e a cultura local. Os turistas culturais são um segmento bastante heterógeno, com personalidades e padrões comportamentais diversificados. Considerando este fator, relevou-se pertinente adotar uma abordagem geracional, focando exclusivamente a geração millennial. Este grupo, revela um surpreendente interesse em visitar património, e conhecer a cultura dos destinos. Nas suas viagens os millennials optam por experiências autênticas, que lhes permitam conhecer a comunidade local, a história, e património (EdgeResearch, 2017). O estudo empírico foi elaborado através da realização de inquéritos nos Centros Históricos reconhecidos pela UNESCO em Portugal continental: Évora, Guimarães e Porto. Os resultados confirmam as dimensões da experiência: (1) sense, (2) feel, (3) think, (4) act e (5) relate, do modelo de Schmitt (1999). A dimensão think não demonstrou relevância perante os resultados obtidos, justificando-se pelo facto da geração millennial ser mais experimental e preferir viver cada momento de forma plena através de seus sentidos e sensações (Veiga, Santos, Águas, & Santos, 2017). A discussão centra-se nos resultados e nas implicações para o turismo cultural e para a gestão turística, podendo auxiliar na criação de novas estratégias de marketing e comunicação que otimizem as dimensões da experiência turística. São também apresentadas limitações e futuras linhas de investigação. ; ABSTRACT: Traveling is an ephemeral way of living in another culture and learning about its customs and traditions. Tourists increasingly seek to make their travels more authentic and unforgettable and are more open to other socio-cultural contexts. They are no longer a mere spectator, but an active participant in the tourism experience (Otto & Ritchie, 1996). Tourism is indeed a set of moments, then portrayed in memories that keep tourists connected to the destinations. The economy of experience is undoubtedly a growing trend, justified by the globalization of information, by the democratization of culture, by and by the urgency of living unique moments (Pine & Gilmore, 1998; Jelincic & Mansfeld, 2019). Tourists want to know more about destinations, traditions and heritage by looking for reliable sources of information. Learning and tourism have become in dissociated elements, resulting in an exponential increase of cultural tourists with different motivations: spiritual, intellectual and emotional, that define their profile as tourists. The main cultural attractions of the destinations are located in the historical centers. Here, monuments, heritage and story sharing are concentrated. Telling stories is a product of cultural tourism, a means of communication, a mechanism to promote the tourism potential of the destinations by fostering space conservation, social awareness, knowledge sharing and the preservation of local traditions (Gonçalves, Seabra, & Silva, 2017). Memorable tourist experiences foster strong connections with destinations, making tourists want to return, relive past moments and in parallel, become storytellers sharing their own experience. Storytelling is not limited to reporting events. It helps tourists to connect with the visited places in a sensorial way, enabling a closer relationship with the community, its residents and the local culture. Cultural tourists are a very heterogenous segment, with diverse personalities and behavioral patterns. Considering this factor, it was pertinent to adopt a generational approach, focusing exclusively on the millennial generation. This group reveals a surprising interest in visiting heritage and knowing the culture of the destinations. In their travels the millennials opt for authentic experiences that enable them to get to know the local community, history, and heritage (EdgeResearch, 2017). The empirical study was carried out by conducting surveys in Historical Centers recognized by UNESCO in Portugal mainland: Évora, Guimarães and Porto. The results confirm the dimensions of experience: (1) sense, (2) feel, (3) think, (4) act, and (5) relate, regarding the model of Schmitt (1999). However, the dimension think was not relevant in the generation studied. This is understandable because millennials are more experimental and prefer to live the moment to the fullest, through their senses and sensations (Veiga, Santos, Águas, & Santos, 2017). Discussion centers on the study findings and implications for cultural tourism, and tourism management that can help in the creation of new marketing and communication strategies that enhance the dimensions of the tourism experience. Lastly limitations and guidelines for future research are presented.
Introduction: After the signing of the alliance among Japan, Germany and Italy's governments in September 1940, several journals arose in order to spread the Japanese culture among people who knew very little about Italy's new allied. Some documentaries also had the same function. Methods: The numerous textual and iconographical references concerning the Japanese warriors' anthropology published in some Italian magazines during the 1940s have been compared, as well as to the few Italian monographs on the same theme and to some documentaries by Istituto Nazionale Luce, government propaganda organ. This subject has also been compared to the first Italian cultural production, concerning Japan, which dated back to the first decades of the 20th century. Moreover different intellectuals' biographies of those times have been deeply analyzed. Results: Comparing to each other the anthropological references about Japan in the Italian cultural production during the Second World War, we can notice a significant ideological homogeneity. This can be explained through their writers' common sharing of the militaristic, hierarchical and totalitarian doctrine of the Fascist Regime. The Fascist ideology can be summarized in the Bushido concept, as Inazo Nitobe defined it in 1916. This concept was already known in Italy on the early 20th century, far before Fascism. Discussions and conclusions: We can see how Italian perception of the Japanese anthropology on the early 20th century didn't change over time and how its features will re-appear in the 40s under the influence of the Italian-Japanese coalition. So, Bushido became the essence of the Japanese military and national identity that Fascist Italy took as example for mass education. Some of these stereotypes will re-appear after the war and until recent times in popular culture and in mass perception of Japanese martial arts. ; Introducción: Tras la firma de la alianza entre Japón, Alemania e Italia en septiembre de 1940, surgieron diversas revistas para difundir la cultura japonesa entre una población que sabía muy poco sobre el nuevo aliado de Italia. Algunos documentales también tuvieron el mismo propósito. Métodos: Se han comparado numerosas fuentes textuales e iconográficas relacionadas con la antropología de los guerreros japoneses, publicadas en algunas revistas italianas durante la década de 1940, así como algunas monografías italianas sobre el mismo tema y algunos documentales del Istituto Nazionale Luce, órgano de propaganda del gobierno. Este tema también se ha comparado con la primera producción cultural italiana referente a Japón, que se remonta a las primeras décadas del siglo XX. Además, se han analizado en profundidad las biografías de diferentes intelectuales de aquel periodo. Resultados: Comparando las referencias antropológicas sobre Japón en la producción cultural italiana durante la Segunda Guerra Mundial, podemos observar una significativa homogeneidad ideológica. Esto se explica porque los autores compartían la doctrina militarista, jerárquica y totalitaria propia del régimen fascista. La ideología fascista se puede resumir en el concepto Bushido, tal y como lo definió Inazo Nitobe en 1916. Este concepto ya se conocía en Italia a principios del siglo XX, mucho antes del fascismo. Discusiones y conclusiones: Podemos observar cómo la percepción italiana de la antropología japonesa a principios del siglo XX no cambió con el tiempo y cómo sus características volverían a aparecer en los años 40 por la influencia de la coalición italo-japonesa. Así, el Bushido se convirtió en la esencia de la identidad militar y nacional japonesa que la Italia Fascista tomó como ejemplo para la educación de masas. Algunos de estos estereotipos volverían a aparecer tras la guerra e incluso en tiempos recientes en la cultura y percepción popular de las artes marciales japonesas. ; Introdução: Com a aliança estabelecida entre o Japão, a Alemanha e a Itália, em setembro de 1940, surgiram diversas revistas a difundir a cultura japonesa, por entre uma população que sabia muito pouco sobre os novos aliados de Itália. Alguns documentários também tiveram o mesmo propósito. Métodos: Compararam-se numerosas fontes textuais e iconográficas relacionadas com a antropologia dos guerreiros japoneses, publicadas em algumas revistas italianas durante a década de 1940, assim como algumas monografias italianas sobre o mesmo tema, e alguns documentários do "Istituto Nazionale Luce", órgão de propaganda do governo. Este tema também se comparou com a primeira produção cultural italiana referente ao Japão, que remonta às primeiras décadas do século XX. Por outro lado, analisou-se, em profundidade, as biografias de diferentes intelectuais desse período. Resultados: Comparando as referências antropológicas sobre o Japão na produção cultural italiana durante a Segunda Guerra Mundial, podemos observar uma significativa homogeneidade ideológica. Isto explica-se porque os autores compartilharam a doutrina militarista, hierárquica e totalitária própria do regime fascista. A ideologia fascista pode-se resumir no conceito de Bushido, tal como o definiu Inazo Nitobe, em 1916. Este conceito já era conhecido em Itália no início do século XX, muito antes do fascismo. Discussões e conclusões: Podemos observar como a percepção italiana da antropologia japonesa, no início do século XX, não mudou com o tempo e como as suas características voltaram a aparecer nos anos 40 por influência da coligação italiano-japonesa. Assim, o Bushido se converteu na essência da identidade militar e nacional japonesa, que a Itália fascista tomou como exemplo para a educação das massas. Alguns destes estereótipos voltariam a surgir com a guerra, e nos tempos recentes, na cultura e percepção popular das artes marciais japonesas.
Este texto propõe, em forma de ensaio, algumas linhas de reflexão e ação relativas a um projeto que vincula Filosofia e Infância, cuja atividade pedagógica e investigativa se desenvolve na cidade de Córdoba, na Argentina, há mais de vinte e cinco anos. Para isso recuperamos uma experiência de ateliês com crianças e adultxs, em um trabalho contínuo de reflexão sobre a infância e o pensar sobre si mesmxs. Tal experiência se centra em imaginar um espaço e tempo particular – a convivência em uma ilha onde não tem adultxs, e a partir daí interroga-se sobre as formas de decisão e participação – de ação política - que as crianças têm nos territórios que habitam. Aqui se sugere que a circunstância de incompletude sobre temas como política e sexualidade abarca a todas as situações etárias e, por isso, torna-se mais adequado deixar-nos atravessar pela inquietude, a dúvida, do que aceitar um mundo preconcebido de lugares demarcados, onde os problemas encontram rápida resposta, e aquilo que não se sabe ou não pode situar em uma categoria fixa é desconhecido, ignorado, permanece oculto. Propomos começar por não colocar quaisquer noções pré-concebidas sobre as infâncias, pensando-as como hipóteses, que em cada território terão nomes, corpos e pensamentos inexplorados a (re)conhecer. Da mesma forma, pressupõe-se que a reflexão sobre a prática docente recoloca os professores de filosofia como intelectuais que guardam as explicações universais em seus "bolsos docentes", que se reinventam ao lidar com problemas específicos, situados, pequenas descobertas que encontram nas trocas com outrxs, aquelxs outrxs, como no caso das crianças, há muito o que aprender. Essa é a tarefa ética e política que surge de uma reflexão contínua sobre a ação compartilhada. Bem-vindxs, então, à ilha onde tudo está para ser decidido e participado, a ilha da Serendipia. ; El presente texto plantea, a modo de ensayo, algunas líneas de reflexión y acción relativas a un Proyecto que vincula Filosofía e Infancia, cuya actividad pedagógica e investigativa se desarrolla en la ciudad de Córdoba, Argentina, desde hace más de veinticinco años. La experiencia permite reflexionar sobre la práctica de enseñanza en un trabajo que articula talleres con niñxs y adultos -familia y docentes- y repensar las representaciones que sobre las infancias, la educación, la filosofía, pero también la política y la sexualidad, el mundo adulto sostiene y superpone a las vivencias y pensamientos infantiles. Atender a las voces, a los cuerpos, los sentires y pensamientos de lxs niñxs implica proveer de herramientas para el encuentro, para que tales voces, cuerpos, sentires y pensamientos sean admitidos en una conversación que puede mencionarlos y hasta prestarles algún tiempo y espacio para la palabra. Sin embargo, no deja de ser hegemónico el paradigma tutelar, no deja de situarse al docente como el responsable indeclinable de aquellos que están en procesos de formación. Aquí se plantea, recuperando algunas experiencias de taller, que la circunstancia de incompletitud respecto a temas como política y sexualidad abarca a todas las situaciones etarias y, por ello, que resulta más adecuado dejarnos atravesar por la inquietud, la duda, que aceptar un mundo preconcebido donde los lugares están asignados, los problemas encuentran rápidamente respuesta, y aquello que no sabe o no se puede ubicar en un casillero es desconocido, ignorado, permanece oculto. Es lo que ocurre, por ejemplo, respecto a las explicaciones sobre la sexualidad en términos de heteronormatividad. Frente a ello, se propone comenzar por no postular ningún preconcepto relativo a las infancias, pensarlas como hipótesis, como conjeturas, que en cada territorio tendrán nombres, cuerpos y pensamientos por (re)conocer. Así también, la reflexión sobre la práctica de enseñanza reubica a los docentes de filosofía, a lxs filósofos, como intelectuales que dejan las explicaciones universales en sus bolsillos profesorales, que se reinventan al ocuparse de problemas específicos, situados, pequeños descubrimientos de lo que encuentran en sus intercambios con otrxs, de esxs otrxs que, como en el caso de lxs niñxs, hay mucho para aprender. Esa es la tarea ética, ética y política que se desprende de un continuo reflexionar sobre la acción compartida. Bienvenidxs, pues, a la isla donde todo está por decidirse y participarse, la isla de Serendipia. ; This text proposes some lines of reflection and action related to a project that links philosophy and childhood, whose pedagogical and investigative activity has been developed in the province of Córdoba, Argentina, for more than twenty-five years. To do this we recover an experience of workshops with children and adults, in a continuous process of reflection on childhood and how children think about themselves. That experience focuses on imagining a particular space and time – living together on an island where adults cannot be found--and from there question the forms of decision making and participation – of political action – that children perform in the territories they inhabit. Here it is proposed that the circumstance of incompleteness regarding issues such as politics and sexuality encompass all age situations and, therefore, it is more appropriate to let ourselves be traversed by restlessness and doubt than to accept a preconceived world in which problems quickly find answers, and what you do not know or cannot be located in a fixed category is unknown, ignored, or remains hidden. We propose to start by not postulating any pre-conceived notions regarding childhoods--thinking of them as hypotheses with unexplored names, bodies and thoughts to get to know. Likewise, it is assumed that reflection on teaching practice relocates philosophy teachers as intellectuals who keep universal explanations in their "professorial pockets," and reinvent themselves by dealing with specific problems, the small discoveries one makes through exchanges with others--those others that, as in the case of children, there is much to learn about and from. This is the ethical and political task that emerges from a continuous reflection on shared action. Welcome, then, to the island where everything is to be decided and participated in, the island of Serendipity.
It is pertinent to initiate this writing from the conceptualization and foundation of a work plan, of which the historical method, allowed the reflection analysis and conceptualization of development, in the creation and development of universities in the world. Starting with the concept of ideology, which represents the set of main ideas of the authors, which in the case mentioned, refers to the University as a collective entity, of social and geopolitical academic dynamics. From this instance, the University cannot study it without putting these processes in consensus, which boost their work and relevance in the territory in which their socio-academic, administrative and management processes are gestated with the geopolitical and power dynamics of the country.In the university it is not possible to historiograph its beginnings and developments without determining its academic, administrative and management processes as an institution of political power. The studium generates, as the university institution understood, was an organization that was governed by the principle of building knowledge and capturing knowledge that came from different cardinal points, ensuring the construction of knowledge from the determination of a way to configure a group of intellectuals who had the power of knowledge as a source of their social control. These powers produced tensions in the medieval European space, because by maintaining links with the reigning powers, the university was subsumed by its structure, in an entity that controlled the knowledge reproduction scenarios.Thus, the knowledge that was generated from the university was regulated by the papacy, an element that reveals the political character that the university has had since its conception. They willingly and rightly thought the papal and secular powers in the head of the emperor, that creating universities were a wedge and timbre of glory, prestige, power and half conducive to the formation of officials who once served monarchies and other forms of government . The numerical and geographical boom of university expansion is accentuated in the fourteenth and fifteenth centuries, (precisely in the fourteenth century due to disagreements by a group of professors at the University of Oxford, Cambridge is created). Subsequently, those of Padua, Naples, Toulouse, Prague, Vienna, Heilderberg and Cologne are created, which will be the only universities in the country. The first Scottish universities are born in this century. By the middle of the 15th century, universities had covered the countries of Latin culture. Generating not only by geographical location but the promotion of a policy of power and knowledge, which affect Latin America. ; Así, los conocimientos que se engendraban desde la universidad eran regulados por el papado, elemento que revela el carácter político que ha tenido la universidad desde su misma concepción. De buen grado pensaron y con razón los poderes papal y seglar en cabeza del emperador, que crear universidades eran cuño y timbre de gloria, prestigio, poder y medio conducente para la formación de funcionarios que en su momento sirvieran a monarquías y otras formas de gobierno. El auge numérico y geográfico de la expansión universitaria, se acentúa en los siglos XIV y XV, (precisamente en el siglo XIV por desavenencias de un grupo de profesores de la Universidad de Oxford, se crea la de Cambridge). Posteriormente se crean las de Padua, Nápoles, Toulouse, Praga, Viena, Heilderberg y Colonia, que serán las únicas universidades del país. En esta centuria nacen las primeras universidades escocesas. Hacia mediados del siglo XV, las universidades habían cubierto los países de cultura latina. Generándose no solo por ubicación geográfica sino el fomento de una política de poder y de saber, que inciden en Latinoamérica. ; É pertinente iniciar esta redação a partir da conceituação e fundamentação de um plano de trabalho, cujo método histórico permitiu a análise da reflexão e a conceituação do desenvolvimento, na criação e desenvolvimento de universidades no mundo. A partir do conceito de ideologia, que representa o conjunto de idéias principais dos autores, que no caso mencionado, refere-se à Universidade como entidade coletiva, de dinâmica acadêmica social e geopolítica. A partir desta instância, a Universidade não pode estudá-lo sem colocar em consenso esses processos, o que potencializa seu trabalho e sua relevância no território em que seus processos sócio-acadêmicos, administrativos e gerenciais são geridos com a dinâmica geopolítica e de poder do país.Na universidade, não é possível historiografar seus inícios e desenvolvimentos sem determinar seus processos acadêmicos, administrativos e gerenciais como uma instituição do poder político. O estúdio gera, como a instituição universitária entendeu, uma organização que era governada pelo princípio de construção de conhecimento e captura de conhecimento proveniente de diferentes pontos cardeais, garantindo a construção do conhecimento a partir da determinação de uma maneira de configurar um grupo de intelectuais que tinham o poder do conhecimento como fonte de seu controle social. Esses poderes produziram tensões no espaço europeu medieval, porque, ao manter vínculos com os poderes reinantes, a universidade foi subsumida por sua estrutura, em uma entidade que controlava os cenários de reprodução do conhecimento.Assim, o conhecimento gerado pela universidade foi regulamentado pelo papado, elemento que revela o caráter político que a universidade possui desde a sua concepção. De boa vontade e com razão, eles pensavam os poderes papais e seculares na cabeça do imperador, que a criação de universidades era uma cunha e um timbre de glória, prestígio, poder e meio propícios à formação de funcionários que outrora serviram monarquias e outras formas de governo . O boom numérico e geográfico da expansão da universidade é acentuado nos séculos XIV e XV, (justamente no século XIV devido a divergências de um grupo de professores da Universidade de Oxford, Cambridge). Posteriormente, são criadas as de Pádua, Nápoles, Toulouse, Praga, Viena, Heilderberg e Colônia, que serão as únicas universidades do país. As primeiras universidades escocesas nascem neste século. Em meados do século XV, as universidades cobriram os países da cultura latina. Gerando não apenas a localização geográfica, mas a promoção de uma política de poder e conhecimento que afeta a América Latina.
1. O fundo histórico da «teologia política». ; Para compreender a «teologia política» de língua alemã é absolutamente indispensável ter em conta o contexto histórico e social. O programa da «teologia política», surgido pela primeira vez entre 1965 e 1969 e corrigido e desenvolvido em vários aspectos a partir desta data, é efectivamente a mais significativa reacção teológica à mudança da consciência geral nos países industriais da Europa. A tomada de consciência dos problemas políticos, económicos e sociais nos anos sessenta fizera viver o presente como tempo de transição e de crise, mostrara a necessidade de reforma da moderna sociedade industrial e despertara uma grande vontade de mudança. Esta mudança de perspectiva encontrou o seu eco não só no protesto estudantil internacional de cariz anárquico, na recente atractividade do marxismo entre os intelectuais e no ganho de terreno dos partidos «socialistas», mas também numa viragem da consciência eclesial. Com a constituição pastoral Gaudium et spes do II Concílio do Vaticano, a Igreja católica procurou introduzir o seu próprio testemunho e o seu próprio serviço a uma humanização da sociedade no recém-começado diálogo com o mundo, para deste modo também proclamar a verdade e a actualidade da fé cristã no mundo contemporâneo. De modo semelhante reagiam as Igrejas protestantes. Com a conferência mundial de 1966 sobre Igreja e Sociedade em Genebra (tema: «Os cristãos nas revoluções técnicas e industriais do nosso tempo») e na «teologia da revolução» aí propagada, deslizava também aqui o centro de gravidade de uma teologia da ordem para uma teologia da mudança. Por detrás destas duas linhas de demarcação anuncia-se já uma primeira tensão no novo comportamento eclesial em relação ao mundo. No contexto das complexas e altamente desenvolvidas sociedades industriais da Europa e da ainda não resolvida problemática de aclaramento, uma «teologia política» tinha quase forçosamente de tomar uma forma diferente da que se fazia, por exemplo, na América Latina, onde a evidente estrutura de violência do liberalismo e do capitalismo levava os teólogos a elaborar uma «teologia da libertação», imediatamente referida à situação e à praxis. Esta tensão foi a breve trecho envolvida por outra. Ao lado de uma cautelosa acentuação teológica do significado social do Evangelho, mais nos quadros tradicionais, o movimento esquerdista penetrava cada vez mais no espaço eclesial. Manifestava-se aqui não só num compromisso mais pronunciado por uma política «socialista» e numa maior disposição de lançar mãos do instrumental marxista de análise da sociedade, mas também em diversas tentativas de modificar as próprias estruturas eclesiais (democratização e politização de Igreja). Ao lado destes genéricos pressupostos europeus de «teologia política» há ainda uma série de condições especificamente alemãs. Aqui o movimento esquerdista permaneceu mais fortemente do que em qualquer outra parte limitado aos intelectuais. Não se deu uma polarização politicamente relevante de forças sociais, por falta de antagonismos sociais profundos. A critica social neomarxista de maior influência («escola de Frankfurt») dedicou-se mais ao processo técnico de civilização e às suas causas do que a questões de política económica. Acrescia ainda o predomínio da problemática hermenêutica, que no pós-guerra tomara uma orientação transcendental, existencial e personalista e agora tinha de experimentar uma correcção e complemento «político», e a possibilidade de se inserir no diálogo tendencialmente especulativo entre cristãos e marxistas. Com isto estava uma «teologia política» imediatamente metida num quadro teorético, em maior ou menor escala. Ela é hermenêutica política do Evangelho como forma actual da responsabilidade da fé cristã perante a nova razão esclarecida, crítica e política. Na sua primeira fase (1965-1969), esta hermenêutica está orientada num sentido quase entusiasmadamente escatológico-futurístico e preenchida de uma esperança optimista numa praxis mais humana. Na segunda fase foram necessárias algumas transformações importantes. Perante a crítica teológica (perigo de tomada acrítica de motivos marxistas e negligências da base de partida cristã, perigo de renovada politização da teologia) e perante a nova situação social e cultural no começo dos anos setenta (acordar da euforia reformista, tendência conservadora) salienta-se agora mais o carácter cristão e dogmático da «teologia política» e corrige-se o anquilosamento político do conceito de praxis. As reflexões teológicas sobre a relação fé e política que se sentiram com direito ao título de «teologia política» no espaço linguístico alemão são, por certo, muito diferenciadas. Nalguns casos trata-se apenas de uma forma renovada de ética social. O conteúdo da noção é então bastante impreciso. No fundo, a «teologia política» preocupou-se com um problema de fundamentos, teológico e hermenêutico: a validade pública da mensagem cristã no seu conjunto nas condições sócio-culturais dos novos tempos. A linha dominante da discussão no espaço linguístico alemão (representantes principais: J. B. Metz e J. Moltmann) é mais de orientação dogmático-apologética (responsabilidade da fé no actual contexto social). Dela tratará a segunda parte. Uma segunda linha (representantes principais: T. Rendtorff e D. Sõlle), menos influente, é mais de orientação ética; procura tirar as consequências políticas da teologia liberal em que entronca. ; 2. Intenção e função da «teologia política». ; A «teologia política» de orientação «dogmática» tem em primeiro lugar uma intenção hermenêutica: a descoberta da linha política fundamental da mensagem cristã. Em segundo lugar, tem uma intenção apologética: a responsabilidade da fé cristã na situação sócio-cultural de hoje, que vê especialmente marcada por iluminismo e marxismo. Para não cair numa apologética pré--crítica, adopta-se a relação hegeliano-esquerdista teoria-praxis e declara-se problema hermenêutico fundamental da teologia: A ortodoxia — diz-se — deve ser coberta pela ortopraxia, a teologia deve entender-se sobretudo como teologia prático-política. Em confronto com a transmissão abstracta de logos e ethos na ontologia e metafísica tradicional, o conceito de verdade recebe agora um carácter histórico-futurista, dialéctico e operativo. Esta arrancada inicial de «teologia política» demonstrou-se problemática, tanto sob o aspecto social-filosófico como sob o aspecto teológico. A problemática social-filosófica insere-se antes de mais no contexto da recepção das teorias de emancipação neomarxistas. Em virtude da distinção entre movimento de emancipação e movimento de produção em K. Marx e da impossibilidade, historicamente demonstrada, dum mecanismo da emancipação economicamente fundado, as teorias de emancipação conferiam um peso novo e decisivo à crítica e à alteração da superestrutura: a reorganização «razoável» das condições sociais não levava automaticamente a uma sociedade emancipada, mas, pelo contrário, a uma sujeição do homem ao domínio por ele próprio adquirido sobre a natureza (crítica da civilização técnica). Em consequência da totalidade desta crítica da razão, que em última análise vive apenas de antecipações e de recordações, dificilmente se pode dizer mais alguma coisa de preciso sobre a futura praxis humanista e os seus sujeitos. É evidente porque é que a «teologia política» podia entroncar precisamente aqui e porque é que ela, na sua primeira formulação, aqui tinha igualmente de fracassar. Enquanto as condições concretas, políticas e económicas, a tal ponto se ofuscam e enquanto a questão da verdade de tal modo se transpõe para o plano da história que apenas são possíveis fundamentações tradicionalistas ou políticas duma nova praxis, nesse mesmo tempo tem a «teologia política» de carecer de uma séria força de convicção política e filosófica. A problemática teológica da «teologia política» resulta do modo e feição da legitimação e prática teológica da nova hermenêutica política. Enquanto os representantes da «teologia política» procuravam fundamentar o carácter histórico-futurista, político-social e operativo da sua nova hermenêutica apologética com recurso a motivos bíblicos centrais (promessas escatológicas, cruz, aliança, liberdade, unidade de palavra e acto, comportamento de Jesus, etc.) e então procuravam de novo interpretar os conteúdos da fé em termos de prática política, os críticos teológicos salientavam a diferença intransponível entre a óptica moderno-iluminada com as suas categorias filosóficas e políticas e a óptica bíblica com as suas concepções e conceitos teológicos, e negavam a ligação íntima de fé e política pretendida na hermenêutica política por razões exegéticas, dogmáticas e práticas. Com isso se prejudicava consideravelmente a efectividade hermenêutica da «teologia política». Já na segunda fase (a partir de 1969) se procurou considerar uma parte desta problemática. J. B. Metz revia em primeiro lugar o conceito de teoria escatológico-futurista, lançando mão da noção de uma «recordação crítica» ou de uma «recordação de sofrimento», porque deste modo podia pensar-se simultaneamente em liberdade e tradição e era possível inserir as tradições dogmático-cristãs mais constitutivamente na «teologia política». Como é que em última análise se podia dar uma fundamentação exclusivamente política à liberdade? Pela recordação da história da saudade da liberdade, que sobe da dor experimentada. Assim a fé cristã, como «memoria passionis, mortis et resurrectionis Jesu Christi» seria uma tal forma de recordação crítica e libertadora, porque sobre ela se funda para todos a promessa de futura liberdade. Através da ligação de aspectos centrais de soteriologia cristã com a categoria de uma recordação libertadora pôs-se mais em evidência a contradição interna das modernas teorias de emancipação. Ao mesmo tempo, a «teologia política» tinha, porém, de renunciar a uma mediação argumentativa e entender-se como recordação narrativa («teologia narrativa»), que se pode credenciar apenas por uma praxis convincente. Ao mesmo tempo libertava-se o conceito de praxis da sua estreiteza política e alargava-se a história de culpa, destino de finitude e de morte da existência humana. Só assim, pensava-se, ele correspondia à efectiva experiência humana de sofrimento; só em confronto com ele se podia interpretar a redenção cristã como libertação. J. Moltmann fazia uma revisão teológica dos conceitos de teoria e praxis estruturalmente semelhante. Nele a teologia da cruz renovada dá ao conceito de teoria um conteúdo dogmático ainda mais forte. «Teologia política» torna-se «teologia política da cruz», que interpreta a cruz de Cristo como força crítica de libertação da idolatria política e da menoridade e alienação política do homem. Num recente alargamento trinitário desta teologia da cruz, os sofrimentos humanos são mesmo inseridos nas relações trinitárias por meio da paixão de Jesus Cristo, como kenose de Deus na cruz, e aí «suprimidos» (a palavra alemã também se pode traduzir por «superados», «sublimados», «elevados» — aufgehoben). O estreitamento futuristo-operativo do conceito de praxis foi simul-taneamente desfeito por uma teologia do jogo e uma nova estética teológica. Recorrendo à liberdade, glória e amor de Deus e à sua glorificação na celebração litúrgica, a praxis libertadora do cristão devia despojar dos traços legais e tomar com isso uma forma mais cristã e mais humana. Neste actual estádio de desenvolvimento da «teologia política» aparecem elaborados com êxito uma série de pontos problemáticos da fase primitiva. Valorizam-se agora mais as condições teológicas da hermenêutica política do Evangelho, as quais influenciam, por outro lado, a forma da apologética. «Teologia política» tende a ser uma mediação dialéctica de fé cristã e pensamento iluminado de crítica à religião. E claro que algumas questões continuam por resolver. A efectividade apologética continua a ser prejudicada pela indeterminação do destinatário, a qual se prolonga em método e conteúdo (por um lado, por ser muito iluminada, por outro, por ser muito teológica) com a exclusão da determinação da relação entre ontologia e história, que deixa o conceito de verdade na penumbra, e com a falta de uma ética política, que só ela objectiva as intuições hermenêuticas nas questões concretas de organização política, económica e social. A efectividade hermenêutica continua prejudicada pela deficiente delimitação de «teologia política» em sentido teológico formal. E isso continuará a alimentar um divulgado equívoco da crítica teológica. Segundo ele, ou o político é o único e exclusivo horizonte na «teologia política» ou a hermenêutica política é de tal modo universal que concentra em si todos os conteúdos da exegese, dogmática e ética social. ; Daqui resultam, em conclusão, as seguintes tarefas positivas: ; 1. «Teologia política» só pode cumprir a sua função apologética se distinguir mais rigorosamente entre apologia ad extra e apologia ad intra e argumentar correspondentemente. Só então ela ganha relevância filosófica e teológica. Em segundo lugar, ela tem de ser suportada por uma teologia histórico-exegética e dogmática autónoma. Só então se garante que tal «teologia política» no diálogo com a cultura moderna tenha mais a dizer do que esta já sabe sem ela e que permaneça uma disciplina teológica. Em terceiro lugar, uma «teologia política» precisa imprescindivelmente de uma ética política como complemento, se não quer ficar sem efeito. Tal «teologia política» continuará a representar um correctivo apologético de qualquer outra disciplina teológica. ; 2. «Teologia política» só pode cumprir a sua função hermenêutica, se pressuposer uma teologia exegético-histórica independente que a guarde de uma retroprojecção ideológica de concepções políticas actuais na Escritura e História da Igreja, se pressuposer uma teologia dogmática independente que identifique hermenêutica política com hermenêutica parcial e se pressuposer uma teologia prática independente que a guarde de irrealismo e ilusionismo. Tal «teologia política» continua, por outro lado, mandatária de uma problemática teológica ainda por resolver e com isso um indispensável correctivo teológico de todas as outras disciplinas teológicas.
At the beginning of the 21st century, Bolivia attempted to make the university an "object of knowledge"; although this was not possible, those efforts are expressed in some publications. A historical perspective is also lacking, since the few studies carried out cover only up to 1930. In this context, the article addresses the ups and downs of the institutionalization of sociology as a discipline, in its research and education dimensions, which was caught up in the tension among intellectual and political projects, competition among areas, and financial difficulties. In Bolivia, there are currently five undergraduate sociology programs, the first of which was created in 1967 at the Universidad Mayor de San Andrés (umsa), in La Paz, and the last, 2006 at the Universidad de San Francisco Xavier (USFX), in Chuquisaca. The Instituto de Sociología Boliviana (Isbo) of usfx, created in 1940, is taken as object of this study, in order to describe and analyze the main factors involved in the emergence and development of sociology. The critical discussion of the topic is based on the debate over institution and institutionalization in the field of university education, which dates back to classical authors like Durkheim, but focuses mainly on the contributions of Foucault, Bourdieu, Kuhn, and Laudan, insofar as the institutionalization of research and education models is a social, political, and mental or symbolic process, which allows for the link with the idea of traditions —instead of paradigms— that presuppose the establishment of a logical, practical, and mental temporality. For this reason and to avoid the risks of a certain systemic functionalism that plagues institutional knowledge, we introduced the ideas of conflict and tension into the analysis. The methodology is based on primary and secondary data. With respect to primary data, which are the main part of the project, a documentary review was carried out in the university archives referring to Isbo, including correspondence and reports, among others. The objective was to combine genealogical and institutional analysis based on information regarding Isbo, as a theoretical-methodological tool for discursive argumentation on institutionalization, as has been done in other cases in Latin America. ; A principios del siglo xxi, en Bolivia se intentó hacer de la universidad un "objeto de conocimiento", aunque no fue posible, esos esfuerzos quedaron plasmados en algunas publicaciones. Sucede lo propio desde una perspectiva histórica, pues los escasos estudios realizados abarcan solo hasta 1930. En este contexto, el artículo aborda los vaivenes de institucionalización de la sociología como disciplina, en sus dimensiones de investigación y formación, tensionada entre proyectos intelectuales, políticos, competencias entre áreas y dificultades financieras. Actualmente, Bolivia cuenta con cinco carreras de sociología, la primera fue creada en 1967 en la Universidad Mayor de San Andrés (umsa), de La Paz, y la última en 2006 en la Universidad de San Francisco Xavier (USFX), de Chuquisaca. En este caso se toma por objeto el Instituto de Sociología Boliviana (Isbo) de la usfx, creado en 1940, para describir y analizar los principales factores que intervinieron en la emergencia y el desarrollo de la sociología. La problematización del tema se basa en la discusión sobre la institución e institucionalización en el campo educativo-universitario que remonta hasta los autores clásicos como Durkheim, pero recoge sobre todo los aportes de Foucault, Bourdieu, Kuhn o Laudan, en la medida que la institucionalización de la investigación y los modelos de formación es un proceso social, político y mental o simbólico de los grupos sociales; lo que permite conectar con la idea de tradiciones —en lugar de paradigmas— que suponen la instalación de una temporalidad lógica, práctica y mental. Por eso, para evitar los riesgos de un cierto funcionalismo-sistémico que asedia al conocimiento de las instituciones, introducimos la idea de conflicto y tensión en el análisis. La metodología se basa en datos primarios y secundarios, entre los primarios —lo esencial del trabajo— se hizo una revisión documental en los archivos universitarios referidos al Isbo, correspondencias, informes, etc. La intención fue combinar un análisis genealógico e institucional basado en datos en torno al caso del Isbo como una herramienta teórica-metodológica en el proceso de argumentación discursiva sobre la institucionalización, similar a otros casos en América Latina. ; No início do século xxi, na Bolívia, tentou-se fazer da universidade um "objeto de conhecimento". Embora não tenha sido possível, esses esforços ficaram registrados em alguns estudos realizados até 1930. O mesmo ocorre, a partir uma perspectiva histórica, já que os escassos estudos realizados abrangem somente até 1930. Nesse contexto, este artigo aborda o vai-e-vem da institucionalização da Sociologia como disciplina, em suas dimensões de pesquisa e formação, tensionada entre projetos intelectuais, políticos, competências entre áreas e dificuldades financeiras. Atualmente, a Bolívia conta com cinco cursos de Sociologia, o primeiro foi criado em 1967 na Universidad Mayor de San Andrés (umsa), de La Paz, e o último, em 2006, na Universidad de San Francisco Xavier (usfx), de Chuquisaca. Neste caso, toma-se por objeto o Instituto de Sociologia Boliviana (Isbo) da usfx, criado em 1940, para descrever e analisar os principais fatores que intervieram na emergência e no desenvolvimento da Sociologia. A problematização do tema está baseada na discussão sobre a instituição e a institucionalização no campo educativo-universitário que remonta aos autores clássicos como Durkheim, mas reúne, principalmente, as contribuições de Foucault, Bourdieu, Kuhn ou Laudan, à medida que a institucionalização da pesquisa e dos modelos de formação é um processo social, político e mental ou simbólico dos grupos sociais; o que permite conectar com a ideia de tradições — no lugar de paradigmas — que supõem a instalação de uma temporalidade lógica, prática e mental. Por isso, para evitar os riscos de um certo funcionalismo-sistêmico que assedia o conhecimento das instituições, introduzimos a ideia de conflito e tensão na análise. A metodologia está baseada em dados primários e secundários. Dentre os primários — o essencial deste trabalho —, fez-se uma revisão documental nos arquivos universitários referentes ao Isbo (correspondências, relatórios, etc.). A intenção foi a de combinar uma análise genealógica e institucional baseada em dados sobre o caso do Isbo como uma ferramenta teórico-metodológica no processo de argumentação discursiva sobre a institucionalização, similar a outros casos na América Latina.
Este trabajo forma parte de una investigación institucionalizada (Nosotros y los Otros en la conformación de la Identidad Nacional en La Revista de Derecho, Historia y Letras, que desde hace varios años (2000- 2014) estamos realizando con el equipo de investigación en el marco del Centro de Estudios Avanzados de la Universidad Nacional de Córdoba. El mismo contó con varios subsidios de la Secretaría de Ciencia y Técnica de la Universidad Nacional de Córdoba y está enmarcada, también dentro del Programa de Incentivos Docentes y de Investigación. Lo que presentamos acá es un avance de un tema de desarrollo de esta investigación. El equipo está conformado por investigadores de diversas disciplinas por lo tanto es un equipo interdisciplinario (Historia, Lenguas, Derecho y Relaciones Internacionales.El pensamiento de Zeballos 4 pertenece a la Generación del '80. Puede considerarse como uno los intelectuales más prestigiosos de la época. Analizaremos su pensamiento plasmado en La Revista de Derecho, Historia yLetras, nuestro corpus de análisis, con el objeto de observar la influencia que tuvo en las elites argentinas de su época, cómo se reflejó su posición especialmente en temas de política exterior de la Argentina y establecersu posición ideológica en relación con la problemática de las relaciones argentino-norteamericanas. Zeballos construye la identidad nacional con todos sus componentes (imaginarios, mitos, etc.) hacia dentro y hacia afuera de la "Argentina": identificando, internamente, las políticas desarrolladas en diferentes ámbitos por el gobierno y, hacia fuera, la posición asumida respecto de la política internacional, específicamente, con la política exterior con Chile y Brasil y luego con la posición asumida con respecto a la "injerencia" norteamericana en la región. , surge un "Otro" diferente y se amplió el "Nosotros" con la incorporación de pequeños países latinoamericanos en el juego de equilibrio de poder latinoamericano. A partir de 1904, Zeballos observa las transformaciones que "nuestro hermano del norte" está realizando de la mano de Teodoro Roosevelt y su "Big Stick".Palabras clave: Política internacional- Estanislao Zeballos –Revista Derecho, Historia y Letras- Identidad nacional- Nación.Teodoro Roosevelt- "Big Stick"-************************************************************************* The concept of Nation: the possibilities of representation from the intelectual field: the position of Estanislao Zeballos regarding the relation between Argentina and North AmericaAbstractThis work is part of an institutionalized investigation (Us and the Others in the conformation of National identity in La Revista de Derecho, Historia y Letras), which for several years (2000-2014) we have been carrying out with the research team in the freamwork of the Centro de Estudios Avanzados of the Universidad Nacional de Córdoba, which has received several financial benefits from the Secretary of Science and Technology of the Universidad Nacional de Córdoba and is framed within the Teaching and Research incentives program. What we are presenting here is an advance of a development topic of this investigation. The team is made up of researches from different disciplines, therefore it is an interdisciplinary team (History,Langueages, Law and International Relations).Zeballos's thought belongs to the generation of '80. It can be consider as one of the most prestigious intellectuals of the time. We will analyze his thought integrated in La Revista de Derecho, Historia y Letras, with the aim of observing the inflluence it had on the Argentine elites of its time, how his position was reflected especially in matters of Argentinian foreing policy and establish their ideological position regarding the problem of Argetine-North American relations. Zeballos builds national identity with all its components (imaginary, myths, etc) in and out of "Argentina": identifying, internally, the policies developed in different areas by the government and, outward, the assumed position regarding international politics, specifically, with foreign policy with Chile and Brazil and then with the position assumed with respect to the North American "interference" in the region. , a different "Other" arises and the "We" has expanded itself with the incorporation of small Latin American countries in the game of Latin American balance of power. Beginning in 1904, Zeballos observed the transformations that "our brother from the north" is carrying out with Theodore Roosevelt and his "Big Stick".Key Words: International Politics, Estanislao Zeballos, Revista Derecho, Historia y Letras, National Identity, Nation, Theodore Roosvelt, "Big Stick"****************************************************************************************O conceito de Nação. As possibilidades de representação desde o campo intelectual: a posição de Estanislao Zeballos com respeito às relações argentino-norteamericanas (1898-1914)ResumoEste trabalho forma parte de uma investigação institucional (Nosostros e os outros na conformação da identidade nacional em La revista de Derecho, Historia y Letras) que vimos realizando há vários anos (2001-2014) com a equipe de investigação no marco do Centro de Estudos Avançados da Universidad Nacional de Córdoba. O mesmo contou com vários subsídios da Secretaria de Ciencia y Técnica da mesma universidade e está também enquadrada dentro do Programa de Incentivos docentes e de Investigação. O que aqui apresentamos é um avanço de um tema de desenvolvimentos desta pesquisa. A equipe está conformada por pesquisadores de diversas disciplinas (História, Línguas, Direito e Relações Internacionais), pelo tanto éuma equipe interdisciplinar.O pensamento de Zeballos pertence à geração do 80. Pode ser considerado como um dos intelectuais mais prestigiados da época. Vamos analisar seu pensamento plasmado em La Revista de Derecho, Historia y Letras, nosso corpus de análise, com o objeto de observar a influencia que teve nas elites argentinas de sua época, como se refletiu sua posição, especialmente em temas de política exterior da Argentina e estabelecer sua posição ideológica com relação à problemática das relações argentino-norteamericanas. Zeballos constrói a identidade nacional com todos seus componentes (imaginários, mitos, etc.) indo dentro e fora da "Argentina": identificando, internamente, as políticas desenvolvidas em diferentes âmbitos pelo governo e, para fora, a posição assumida respeito da política internacional, , com apolítica exterior com Chile e Brasil, e posteriormente com a posição com relação a "ingerência" norte-americana na região, surge um "outro" diferente e se amplificou o "Nos" com a incorporação de pequenos países latino-americanos no jogo de equilíbrio de poder latino-americano. A partir de 1904, Zeballos observa as transformações que "nosso irmão do norte" está realizando da mão de Teodoro Roosevelt e seu "Big Stick" Palavras chave: Política internacional – Estanislao Zeballos – Revista Derecho, Historia y Letras- Identidade nacional- Nação .-Teodoro Roosevelt- "Big Stick"
Objective: The present research aimed to identify which competences are desirable to the accountant from the perspective of the accounting professionals who work in the offices of the city of Vitória de Santo Antão, in Pernambuco. Methodology: A descriptive field survey research was carried out, with a quantitative approach and the use of a specific questionnaire, applied to a sample of 26 accounting firms. The study considered the classification of competencies of the standard established by the IFAC International Federation of Accountants (2012), categorized as: intellectual; technical and functional; personal; interpersonal and communication; and organizational and business management, as well as the use of the set of competencies defined by the studies of Cardoso (2006), Callado and Amorim (2017). The research data were collected in person and by email, being treated with the aid of Microsoft Excel software, enabling the construction of tables for analysis. Results: The competences of the accountant indicated by the professionals of the area working in the offices located in the city of Vitória de Santo Antão, in Pernambuco, were consistent with those provided by IFAC (HEI 3), highlighting them with the highest level of importance, among the five categories classified in that standard: ability to identify problems, acting in accordance with the legislation, acting with ethics and integrity, working in a team, knowing how to manage and organize time well. One notices a trend towards the new role of the accountant, who is no longer seen as a mere "bean counter" but as a "business partner". Study Contributions: Identifying and understanding which are the competencies required of the accounting professional can assist in the growth and development of the same in organizations, since even though there are several investigations on this subject, it is consensual the understanding that the competence of the accountant is a construct in formation, thus not consolidated. Another contribution is to present to the accounting science courses in the region what the market expects from students, so that they can organise a political pedagogic project. By recognising which competences are considered relevant from the perspectives of the professionals themselves, discussions are enabled that seek to find suggestions for improvements to their education, and also about their social role, considering changes in the political, economic and technological spheres. ; Objetivo: La presente investigación tuvo como objetivo identificar cuáles son las competencias deseables para el contador desde la perspectiva de los profesionales de la contabilidad que trabajan en las oficinas de la ciudad de Vitória de Santo Antão, en Pernambuco. Metodología: Se llevó a cabo una encuesta de campo descriptiva con enfoque cuantitativo mediante un cuestionario específico aplicado a una muestra de 26 empresas de contabilidad. El estudio consideró la clasificación de competencias del estándar establecido por la IFAC International Federation of Accountants (2012), categorizadas como: intelectuales; técnicas y funcionales; personales; interpersonales y de comunicación; y organizativas y de gestión empresarial, así como el uso del conjunto de competencias definidas por los estudios de Cardoso (2006), Callado y Amorim (2017). Los datos de la investigación se recogieron en persona y por correo electrónico, siendo tratados con la ayuda del programa informático Microsoft Excel, lo que permitió la construcción de tablas para su análisis. Resultados: Las competencias del contador indicadas por los profesionales del área que trabajan en oficinas ubicadas en la ciudad de Vitória de Santo Antão, en Pernambuco, fueron consistentes con las proporcionadas por la IFAC (HEI 3), destacándose con el mayor nivel de importancia, entre las cinco categorías clasificadas en esa norma: capacidad de identificar problemas, actuar de acuerdo con la legislación, actuar con ética e integridad, trabajar en equipo, saber administrar y organizar bien el tiempo. Se observa una tendencia hacia un nuevo papel de los contables, que ya no se consideran meros "contadores de cuentas", sino "socios comerciales". Aportes del estudio: Identificar y comprender cuáles son las competencias requeridas para el profesional contable puede ayudar al crecimiento y desarrollo de las mismas en las organizaciones, ya que si bien existen diversas investigaciones sobre el tema, es consensual el entendimiento de que la competencia del contador es un constructo en formación, por lo tanto no consolidado. Otra contribución es presentar a los cursos de Ciencias Contables de la región lo que el mercado espera de los estudiantes, para que puedan organizar un proyecto pedagógico político. Al reconocer cuáles son las competencias que se consideran relevantes desde la perspectiva de los propios profesionales, se habilitan debates que buscan encontrar sugerencias para mejorar su formación, y también sobre su papel social, considerando los cambios en las esferas política, económica y tecnológica. ; Objetivo: A presente pesquisa objetivou identificar quais são as competências desejáveis ao contador sob a ótica dos profissionais contábeis, que trabalham nos escritórios da cidade de Vitória de Santo Antão, em Pernambuco. Metodologia: Realizou-se uma pesquisa de campo levantamento (survey), descritiva, com abordagem quantitativa e utilização de um questionário específico, aplicados a uma amostra de 26 escritórios de contabilidade. O estudo considerou a classificação de competências da norma estabelecida pelo IFAC International Federation of Accountants (2012), categorizadas como: intelectuais; técnicas e funcionais; pessoais; interpessoais e de comunicação; e organizacionais e de gerenciamento de negócio, bem como a utilização do conjunto de competências definidos pelos estudos de Cardoso (2006), Callado e Amorim (2017). Os dados da pesquisa foram coletados pessoalmente e por e-mail, sendo tratados com o auxílio do software Microsoft Excel, possibilitando a construção de tabelas para análise. Resultados: As competências do contador indicadas pelos profissionais da área atuantes nos escritórios localizados na cidade de Vitória de Santo Antão, em Pernambuco, foram consoantes com aquelas previstas pelo IFAC (IES 3), destacando-as com maior nível de importância, entre as cinco categorias classificadas na referida norma: capacidade para identificar problemas, atuação em conformidade com a legislação, agir com ética e integridade, trabalhar em equipe, saber administrar e organizar bem o tempo. Repara-se uma tendência voltada para o novo papel do contador, deixando de ser visto como um mero "contador de feijão" para um "parceiro de negócio". Contribuições do Estudo: Identificar e compreender quais são as competências requeridas ao profissional contábil pode auxiliar no crescimento e no desenvolvimento do mesmo nas organizações, visto que ainda que existem diversas investigações sobre esta temática, é consensual o entendimento de que a competência do contador é um construto em formação, sendo assim não consolidado. Outra contribuição é apresentar para os cursos de ciências contábeis da região o que o mercado espera dos discentes, podendo estes organizar um projeto político pedagógico. Ao reconhecer quais as competências consideradas relevantes nas perspectivas dos próprios profissionais atuantes, possibilita-se discussões que busquem encontrar sugestões de melhorias para sua formação, e ainda sobre o seu papel social, ponderando mudanças no âmbito político, econômico e tecnológico.
Tese de Doutoramento em Política Social ; Em todo o mundo, as pessoas com deficiência enfrentam situações de desvantagem em todos os domínios da vida. Entre estas, incluem-se maiores níveis de pobreza, piores indicadores de saúde, níveis educacionais mais baixos, menor probabilidade de participação no trabalho e no emprego, remunerações menos elevadas, piores condições laborais e oportunidades mais reduzidas de progressão na carreira (World Health Organization 2011). Como consequência desta posição social de desvantagem, as pessoas com deficiência constituem um grupo-alvo importante para a política social. Em muitos países, as políticas da deficiência abrangem áreas tão diversificadas como a saúde, segurança social, educação e emprego. Em geral, as políticas da deficiência dizem respeito à criação e implementação de leis, prorrogativas e proibições, acções estatais e estratégias de taxação que respondem a problemas e necessidades das pessoas com deficiência e das suas famílias (Pinto and Fiala 2015). Até aos anos 1970, o modelo médico da deficiência era o paradigma na base das políticas da deficiência. A preocupação central destas políticas era a prevenção, cura ou eliminação da deficiência e, sempre que tal não fosse possível, a assimilação do corpo e da mente das pessoas com deficiência às normas e estruturas dominantes. A responsabilidade do Estado, nesta abordagem, consiste no desenvolvimento e implementação de leis, políticas e práticas que promovem a segregação e reabilitação das pessoas com deficiência (Rioux and Fraser 2006; Tremain 2006). Desde a emergência do modelo social da deficiência, nos anos 1970, as políticas da deficiência têm sido crescentemente informadas por uma abordagem de direitos humanos. A responsabilidade do Estado e, por inerência, as abordagens políticas, alteram-se quando são guiadas por um entendimento sociopolítico da deficiência. Nesta abordagem, já não é a pessoas com deficiência que tem que ser curada, reabilitada ou assimilada em normas e estruturas hegemónicas, mas são estas que têm que se transformar para acomodar as necessidades das pessoas com deficiência. O direito das pessoas com deficiência a um acesso e cidadania igualitários torna-se um dos principais objectivos políticos. Nos últimos anos, as abordagens de "workfare", que determinam quem tem acesso a um estatuto de cidadania, tornaram-se predominantes nas políticas da deficiência a nível supranacional e nacional (Abberley 2002). Em muitos países, os benefícios tradicionalmente atribuídos a pessoas com deficiência foram restringidos ou eliminados e a participação em medidas de "workfare" – a participação económica das pessoas com deficiência – tornou-se um pré-requisito para acesso a apoios sociais (Morris 2011; Soldatic and Chapman 2010; Owen and Harris 2012; Soldatic and Meekosha 2012; Bussemaker 2005a). Um dos principais objectivos destes desenvolvimentos políticos é reduzir o "peso significativo" que os benefícios sociais, incluindo as prestações por deficiência, colocam nas finanças públicas (OECD 2010, 12), mas também são o reflexo da importância que o trabalho e o emprego assumem nas sociedades contemporâneas. De facto, a ligação entre a identidade e o estatuto ocupacional, apesar de não ser necessariamente uma experiência universal, tornou-se particularmente dominante nos Estados de bem-estar Ocidentais, em que a participação no mercado de trabalho representa um marco importante de valorização da identidade social (Beck 2001b; Galer 2012; Abberley 2002). Como consequência, aspectos que tendem a ser encarados como positivos, como os efeitos da ocupação e participação laboral sobre o bem-estar individual, raramente são problematizados, tanto na literatura genérica de Política Social, como na literatura sobre deficiência. Os decisores políticos afirmam, pelo contrário, que o emprego e estatuto ocupacional são elementos centrais para a participação plena dos cidadãos na vida económica, social e cultural. O direito ao trabalho é, assim, essencial para a realização de outros direitos humanos e forma uma dimensão inseparável e inerente da dignidade humana. O trabalho deve providenciar uma base de sustento para a pessoa e para a sua família e, quando livremente escolhido e aceite, pode contribuir para o desenvolvimento pessoal e reconhecimento social dentro da comunidade (United Nations 2012b; OECD 2010). O presente estudo visa reflectir criticamente sobre a implementação do direito ao trabalho e emprego, tal como consagrado na Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, em Portugal e na Alemanha. Estes dois países divergem em diversos pontos: Portugal, por exemplo, é habitualmente classificado como um Estado de bem-estar do Sul da Europa, em que a família é o locus primário de solidariedade e apoio social (Karamessini 2007; Ferrera 1996). Em contraste, a Alemanha, geralmente classificada entre os Estados de bem-estar conservadores (Esping-Andersen 1990), apresenta um nível elevado de proteção social e um sistema de benefícios generoso. Adicionalmente, ambos os países têm abordagens diferenciadas no que se refere à participação das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. No entanto, Portugal e a Alemanha integram a União Europeia e foram afectados por legislação supranacional, como a Directiva Europeia relativa à Igualdade no Emprego ou a Estratégia Europeia para a Deficiência 2010-2020 ou, de forma ainda mais proeminente, pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD), que ambos os países assinaram e ratificaram. O objectivo do presente estudo é identificar como as diferenças e semelhanças entre estes dois países afectam as realidades das pessoas com deficiência. Para este efeito, é necessária uma estratégia de pesquisa dual, que integre tanto a análise de leis e políticas (o nível dos sistemas), como a monitorização de experiências individuais. • Como foi o direito ao trabalho e emprego (CDPD) traduzido nas leis, políticas e programas nacionais, no contexto alemão e português? • Como é que as pessoas com deficiência, na Alemanha e em Portugal, experienciam, na prática, a efectivação do direito ao trabalho e emprego? • O que se pode aprender, a partir dos casos alemão e português, que permita informar desenvolvimentos políticos futuros nesta área, ajudando a avançar o direito ao trabalho das pessoas com deficiência na Alemanha, em Portugal e noutros contextos? Enquanto as duas primeiras questões visam produzir conhecimento sobre a situação nos dois países, a terceira questão de investigação dirige-se à dimensão comparativa do estudo, procurando identificar boas práticas que possam influenciar desenvolvimentos políticos em ambos os países. Enquadrando-se no âmbito da teoria crítica, este estudo inclui tanto uma análise crítica das molduras legislativas, documentos políticos e estudos de avaliação de políticas, como uma avaliação crítica da situação de facto. Para recolher informação sobre a eficácia das leis, políticas e práticas existentes, foram conduzidas 38 entrevistas semiestruturadas aprofundadas com pessoas com deficiência residindo na Alemanha e em Portugal. Os resultados deste estudo indicam que alterações legislativas recentes, em ambos os países, fortaleceram uma abordagem da deficiência à luz de um modelo de direitos humanos – pelo menos, ao nível formal. Não obstante, o direito ao trabalho e ao emprego carece ainda de implementação plena. A análise crítica revela que a exclusão e discriminação com base na deficiência, no mercado de trabalho, é ainda generalizada. Enquanto na Alemanha o emprego apoiado aumenta o risco de a pessoa se sentir excluída ou de experienciar condições de trabalho pouco dignas, também possibilita uma resposta alternativa ao emprego, numa escala elevada, que não se regista em Portugal. Em Portugal, as pessoas com deficiência apresentam maior risco de desemprego e, devido à insuficiência de medidas de apoio, designadamente medidas de emprego de longa duração, as redes familiares e outras redes de apoio, são chamadas a compensar este défice, incluindo financeiramente. A análise comparativa sistémica apontou ainda que a interseccionalidade da deficiência com outros factores interfere com os resultados das políticas e medidas existentes. Enquanto a posição de desvantagem das participantes do sexo feminino parece ser um fenómeno transnacional, regista-se uma diferenciação binacional quando a idade dos participantes é tomada em consideração. Em suma, enquanto o sistema alemão providencia os melhores níveis de proteção para os cidadãos mais velhos com deficiência que ainda se encontram a trabalhar, as medidas portuguesas focam-se prioritariamente no acesso ao trabalho e emprego e, consequentemente, são mais benéficas para jovens com deficiência em busca de trabalho. Em ambos os países, no entanto, as pessoas com deficiências intelectuais ou psicossociais encontram-se na situação de maior desvantagem. Pesem embora as lacunas e obstáculos evidenciados, a análise revelou oportunidades de aprendizagem bilateral. As recomendações apontadas pelos participantes e a avaliação crítica das leis e políticas em vigor constitui uma fonte valiosa de apoio ao desenvolvimento de políticas futuras na área do emprego. Globalmente, a tese conclui que políticas sociais que apoiem a inclusão das pessoas com deficiência no trabalho e emprego criam estruturas económicas e sociais mais justas e igualitárias, não apenas para as pessoas com deficiência, mas para todos. ; The present study critically reflects on the implementation of the right to work and employment as enshrined in the UN Convention on the Rights of Persons with Disabilities in Portugal and Germany and frames it within the wider scope of Social Policy. Including the narratives of disabled people themselves, the results of this study indicate that recent legislative changes in both countries strengthen a human rights approach to disability. However, the right to work and employment still lacks full implementation. The critical analysis reveals that exclusion from and discrimination in the labour market on the ground of disability is still widespread. Despite persisting gaps and obstacles, the analysis shows that there is scope for binational learning and presents recommendations for future policy development. ; N/A
A priori, buscamos descrever brevemente o contexto político-social e econômico brasileiro em que a obra a ser resenhada foi pensada e redigida, a fim de qualificar e destacar a importância deste trabalho enquanto referência atual, efetiva e fundamental ao enriquecimento dos diálogos acadêmicos daqueles pensadores que se preocupam em adotar uma postura epistemológica crítica com relação ao panorama observado e vivido no Brasil. Para tanto, compreendemos que, enquanto ordem e regime social simbólico e pragmático, o fascismo pode coexistir com o a democracia - quando este último termo é desconstruído e desconectado de sua base epistemológica - e, além disso, é apropriado pelos agentes das políticas liberais. Desta feita, em vez sacrificar e prostrar a democracia aos interesses e exigências do capitalismo global de maneira objetiva, este conceito é trivializado e subjugado diuturnamente - nas esferas políticas, na mídia e, até mesmo, na academia -, até o ponto em que este não se faz mais socialmente necessário e/ou compreensível em sua plenitude e, por fim, acaba sendo convertida exclusivamente aos desígnios do mainstream. Assim sendo, adentramos em um período histórico em que as sociedades podem ser híbridas, ou seja: politicamente democráticas (forma) e socialmente fascistas (conteúdo), frente às demandas e especificidades do mercado e seus operadores (SANTOS e MENEZES, 2009). Tal qual ocorre no Brasil contemporaneamente (TIBURI, 2015; SEVERIANO e DÓRIA, 2015). De fronte ao cenário supracitado, a obra intitulada: "A tolice da inteligência brasileira - ou como o País se deixa manipular pela elite" (272 págs.), teve sua primeira edição publicada pela Editora Leya, em 2015 e, fora escrita pelo professor e pesquisador: Jessé José Freire de Souza (Universidade Federal Fluminense). Este que possui graduação em Direito; mestrado e doutorado em Sociologia; três pós-doutorados e uma livre docência; escreveu e organizou 23 livros e mais de 100 artigos e capítulos de livros em diversas línguas, sobre temas diretamente ligados as áreas da teoria social, pensamento social brasileiro e estudos teórico/empíricos acerca da desigualdade das classes sociais no Brasil contemporâneo - e, que até o momento da ascensão e institucionalização do "novo governo" -, ocupava o cargo de Presidente do Ipea: Instituo de Pesquisa Econômica Aplicada. Com este livro organizado em quatro partes e dezesseis capítulos - para além do prefácio -, a partir de um encadeamento escalar e cronológico impecável, Souza (2015), descreve, examina e conforma ideias e argumentos críticos que podem nos explicar a partir de uma abordagem teórica e histórica, as reais contradições que envolvem o Brasil e, de que forma classes sociais inteiras são feitas de tolas para que a reprodução de privilégios injustos sejam mantidos inalterados na condução dos rumos do Estado, suas instituições e suas das dinâmicas política, social e econômica, em proveito das elites - políticas e econômicas - instauradas no País. No prefácio da obra, o próprio autor desnuda os traços simbólicos e pragmáticos que a sociedade brasileira enfrenta ao longo da vida de maneira acrítica e compassiva, demostrando como se fundamentam e se alastram - de maneira livre - a ideologia e os interesses dos mais ricos do Brasil (1%), em detrimento da exploração do trabalho do restante da população (os 99% restantes). E, além disso, como o domínio das estruturas de poder, da informação e da inteligência, monopolizaram os recursos que deveriam ser de todos e, por conseguinte, abrem caminho para o empreendimento de uma violência simbólica, que permite a edificação de uma das sociedades mais desiguais e perversas do planeta (SOUZA, 2015). Já na primeira parte do livro, em seis capítulos, Souza (2015), disserta acerca da construção e fundamentação do ideário social brasileiro por parte de expoentes da História, da Antropologia e da Sociologia nacional, tais como: Gilberto Freyre, Roberto DaMatta, Sérgio Buarque de Hollanda e Raymundo Faoro - dentre outros -, questionando academicamente, de maneira clara e objetiva, quais são os contextos e os objetivos inconfessáveis dos referidos autores em erigir e, difundir reflexões pseudocríticas em que a sociedade brasileira é retratada por meio de argumentos ardilosos, em que há uma sistemática repetição das banalidades e axiomas de um senso comum permeado de preconceitos arraigados ao patrimonialismo historicamente vigente no controle do Estado brasileiro. Elucidando esta exposição, é impreterível se utilizar do próprio vocábulo de Souza (2015, p. 90): Nosso liberalismo hegemônico, na esfera pública, na grande imprensa conservador e, em boa parte do debate acadêmico é, certamente, uma das intepretações liberais mais mesquinhas, redutoras e superficiais que existe em escala planetária. Se fossemos completamente sinceros, teríamos de dizer que essa interpretação nada mais é, hoje em dia, que pura "violência simbólica", sem nenhum aporte interpretativo efetivo e sem qualquer compromisso, seja com a verdade, seja com a dor e o sofrimento que ainda marcam, de modo insofismável, a maior parte da população brasileira. Também nesta parte do livro, Souza (2015), discute com seriedade, quais são as bases teórico-metodológicas e, além disso, quais são as perspectivas políticas, ideológicas e epistemológicas dos referidos autores - liberais conservadores -, acerca da formação e da organização da sociedade brasileira. Estabelecendo valorosos argumentos que situam nossas realidades antropológicas, institucionais e econômicas a mesma altura de qualquer outra sociedade humana e/ou país - tanto em pontos positivos, quanto em negativos. Reforçando suas ponderações sobre o quadro supracitado, mas, especificamente sobre a conjuntura atual no Brasil, Souza (2015, p. 11) indica que: Daí ser fundamental compreender como intelectuais e especialistas distorcem o mundo para tornar todo tipo de privilégio injusto em privilégio merecido (...). (...) Não basta aos endinheirados controlar todos os grandes jornais e redes de TV para legitimar seus próprios interesses. Hoje em dia esses interesses precisam ser justificados de modo que pareçam razoáveis a fim de convencer os que são feitos de tolos por essas falsas justificações. (...) criando uma ciência para seus interesses, como de fato construíram para o Brasil. Por conseguinte, na segunda parte do texto, em três matérias, Souza (2015), centra seus questionamentos e reflexões no aporte exclusivamente economicista da dimensão simbólica do capitalismo contemporâneo e, de que maneira esta abordagem se desdobra de maneira inequívoca, sobre o cotidiano da humanidade e - em especial -, dos brasileiros. Indicando como a partir desta perspectiva, todo comportamento individual/social passa a ser induzido e traduzido por meio de estímulos econômicos, tendo, deste modo, todas as qualidades humanas reduzidas ao potencial das quantidades de "coisas úteis" a serem consumidas. Nesse sentido, o autor do livro traça uma linha de pensamento em que desenvolve uma complexa narrativa em que observa e descreve como esta abordagem economicista - ao longo do tempo -, naturaliza as deformações, distorções e injustiças sociais que acometem o Brasil e como, por conseguinte, estas são secundarizadas nos discursos e nas práticas dos indivíduos, das instituições e dos governos. Criando e recriando um cenário de racismo de classe e, em igual medida, estabelecendo que todo mal - político, administrativo e econômico - é derivado da corrupção instalada - exclusivamente -, no Estado. Ignorando e negando as responsabilidades da classe burguesa e da iniciativa privada para formatação e reforço deste drástico panorama em que vivemos. Ainda no segundo segmento de seu livro, Souza (2015), traz consigo os argumentos e a construção teórica de Florestan Fernandes e, por sua vez, os questiona de maneira franca. Levantando dúvidas sobre a generalização e validade das ponderações e adágios feitos por Fernandes acerca das realidade e totalidade dos estigmas referentes e inerentes à sociedade brasileira. Por sua vez, na terceira fração de seu livro, em quatro tópicos, Souza (2015), discute como o alinhamento espontâneo a uma ideologia opressiva a diversidade brasileira, acaba por enviesar - até mesmo - as perspectivas e análises acadêmicas sobre a situação do Brasil. Visto como é grande a capacidade de dominação ideológica, os debates científicos passam a ser colonizados em seus próprios termos e conceitos, impedindo os pensadores de perceber as diferenças na estruturação dos argumentos sobre as análises e julgamentos do contexto social brasileiro. Além disso, o autor ainda descreve como esta perspectiva estreita afeta - em igual medida -, o cotidiano da população, uma vez que se estabelece uma forte influência e presença dos ideais capitalistas que fundamentam hierarquias valorativas e segregativas, a partir de mecanismos ocultos e opacos, que por fim, buscam ativamente estabelecer uma violência simbólica - naturalizada - no contato entre os extratos sociais, conformando um quadro de estamento socioeconômico e cultural internamente no País. Especificamente, em escala internacional, Souza (2015), indica que: apesar de não ser verdade. A compreensão, a construção e o reforço do status quo das sociedades avançadas e a submissão das periféricas, acabam por prosseguir sob a mesma lógica de dominação ideológica intrínseca as sociedades locais, uma vez que existe uma série de pressupostos não explicitados que acabam por viciar os exames sobre as estruturas e normas de funcionamento qualitativamente distintas em relação à formação - social, econômica, cultural, religiosa, etc. -, de cada Estado. Criando e reproduzindo perniciosos argumentos políticos, midiáticos e pseudocientíficos que baseiam e reforçam e perpetuam a condição econômica e moral de cada Estado - evidentemente, a partir de uma perspectiva exclusivamente Ocidental, Eurocêntrica e/ou em prol de países como os Estados Unidos, que subjugam e corroem as potencialidades de países de fora deste eixo, tais como o Brasil, por exemplo. Idealizando um cenário que passa a ser inatingível frente aos "oportunos" condicionantes e prerrogativas inatos a cada país, segundo este ponto de vista. Diante desta paisagem em tela, Souza (2015, p. 171), adverte: Essa dificuldade se reproduz na consideração apenas do aspecto "material" do capitalismo, que se expandiu praticamente para todas as partes do globo, e no amesquinhamento da dimensão simbólica à dimensão, quase sempre eivada de "violência simbólica", da "cultura nacional" ou do "mito nacional". Como a cultura nacional reflete, pelo menos em grande medida - com dizia com razão o Marx da ideologia alemã -, os interesses particulares das classes dominantes transformados em interesses de todo corpo social, estamos confrontando com a distorção da realidade quanto com sua fragmentação e redução ao elemento "material" na dimensão da comparação entre sociedades". Na quarta e derradeira parte desta obra, Souza (2015), estabelece suas reflexões acerca de três importantes tópicos: I) sobre a cegueira do debate brasileiro sobre as classes sociais e a pobreza do debate político; II) as manifestações de junho (2013) e a cegueira política das classes; III) o golpismo de ontem e de hoje: considerações sobre o momento atual. Sobre o item I, é relevante destacar que a união entre economicismo e culturalismo conservador turva a análise e plena compreensão sobre como se dá a estruturação social, que implica a consideração de capitais que não se restringem ao econômico, mas, sobretudo, a forma velada como as classes sociais são produzidas e reproduzidas historicamente no Brasil. Souza (2015, p. 236): (...) as classes do privilégio não dispõem apenas dos capitais adequados para vencer na disputa social por recursos escassos, possuem também a "crença em si mesmo", produto de uma autoconfiança de classe, tão necessária para enfrentar todas as inevitáveis intempéries (...) e, poder usufruir do "reconhecimento social" dos outros como algo tão natural quanto respirar. As classes populares, ao contrário, não dispõem de nenhum dos privilégios de nascimento das classes média e alta. A socialização familiar é muitas vezes disruptiva, a escola é pior e muitas vezes consegue incutir com sucesso insegurança na própria capacidade, os exemplos bem-sucedidos na família são muito mais escassos, quando existentes, quase todos necessitam trabalhar muito cedo e não dispõem de tempo para os estudos, o alcoolismo, fruto do desespero com a vida, ou o abuso sexual sistemático, são também "sobrerrepresentados" nas classes populares. E, por conseguinte, como esta situação avassaladora é ignorada sistematicamente pelas esferas políticas e, principalmente, pela mídia - que naturaliza estas pré-condições e, partem delas, para estabelecer suas interpretações e considerações -, ao longo do tempo, vão sendo apresentados casos de corrupção no Estado, crises de representação e no sistema político e, crises econômicas por conta do "descontrole" dos gastos do governo. Entretanto, em hipótese alguma, o problema de fundo é abordado de maneira clara e objetiva: o abismo socioeconômico dentre os estratos sociais do Brasil, com suas causas, suas consequências e, principalmente, sobre as formas de mitigação deste horizonte. A propósito do item II, Souza (2015), versa acerca da grande fraude encampada e reforçada pela mídia golpista com relação às manifestações de junho de 2013, em que a impressão a ser reforçada ao mundo todo, é a de que o Estado brasileiro é o vilão e a sociedade local - engajada, politizada, patriota e classe média/alta -, é o mocinho desta história de conto de fadas para adultos ingênuos e infantilizados. Entretanto, quem - por fim -, ganhou muito com as reivindicações que clamavam pelo fim da corrupção e pela mudança nos rumos da economia e política da nação, fora justamente às forças mais liberais conservadoras do País - justamente, o monstro a ser combatido. Com a propagação - via redes sociais da internet e, os chamados e apelos intermitentes da mídia - a instauração deste exercício de "democracia" e "participação popular", ao longo de todo território nacional, a classe média acabou por distorcer as demandas sociais legitimas e, garantiu na pauta de reivindicações das manifestações, a exclusividade de seus interesses - ocultando de maneira inconfessável -, seus privilégios injustos e excludentes. Desta forma, este segmento social privilegiado garante de sobremaneira uma boa imagem, reforçando seus direitos a obter prestígio, reconhecimento e melhores salários e, além disso, a culpar as vítimas, de um processo social que torna invisível a injustiça - a exploração, a miséria e o sofrimento diário -, como se fosse possível escolher esta condição de pobreza e humilhação. Souza (2015, p. 241), ainda completa sua reflexão indicando que: (...) o fato de que a dominação social no Brasil se enfeita de outros atributos que não existem em outros lugares. Aqui, afinal, é o País em que a classe média "tira onda" de revolucionária, de agente de mudança e de lutadora por um "Brasil melhor". Entretanto, o insucesso desta ardilosa campanha se deu com o resultado inegável das eleições presidenciais de 2014 - vencidas de maneira legítima e democrática pelo partido da situação. Todavia, este momento histórico, se consolidou como sendo o estopim da indignação das classes políticas conservadoras que lograram, inclusive, persuadir e contaminar parte importante das classes trabalhadoras ascendentes com seu discurso draconiano, incensadas pela mídia, que a cada dia apresentava um novo escândalo do "Petrolão", envolvendo - exclusivamente e seletivamente - agentes do governo. A solução, segundo os operadores e intelectuais do apartheid conservador, é o enlace lascivo aos desígnios do capital e do mercado, com efusivos elogios as práticas da gestão enxuta, do Estado mínimo, do superávit primário, da "racionalização" dos gastos públicos, etc. Este panorama aliado à ausência crônica de debates sérios sobre a realidade brasileira, seja na academia, nos espaços públicos, na esfera política ou na mídia, torna um País tão rico e diverso como é o Brasil, com sua grande população, em uma multidão de tolos manipulados e incapazes de perceber os quais são os perigos que os assolam. Essa é uma cegueira que condena milhares de pessoas a uma vida indigna e, em igual medida, sentencia toda sua sociedade a uma reflexão amesquinhada e a uma vida apequenada em todas as suas dimensões (SOUZA, 2015). Acerca do capítulo III, Souza (2015), anota suas reflexões críticas a respeito da edificação - pari passu - do impeachment (golpe), sofrido pela presidenta eleita democraticamente pela maioria dos cidadãos brasileiros votantes - ao seu segundo mandato consecutivo: Dilma Roussef. O autor ainda destaca que ao longo de todo ano de 2015 - e, parte de 2016 -, a presidenta, sua equipe de governo e figuras de prestigio e relevância política do Partido dos Trabalhadores (PT), tais como o ex-presidente: Luiz Inácio "Lula" da Silva, foram violentamente e covardemente agredidos pela mídia e pela oposição - historicamente -, territorializada no Congresso Nacional. Sob suas exclusivas responsabilidades, todo o cômputo relativo à corrupção da esfera política brasileira foram-lhes arbitrariamente atribuídas, sem qualquer oportunidade de defesa pública e/ou jurídica. Neste caso, para além da seletividade e parcialidade que todo este maligno processo fora retratado e conduzido, com a finalidade de denegrir a reputação e, principalmente, a ideologia do PT e, dos demais partidos de "esquerda" no Brasil. Ainda se logra - a todo custo - incinerar a imagem, a representatividade e o carisma de "Lula", de forma a inviabilizar sua candidatura - e, possível reeleição - nas próximas eleições presidenciais de 2018. Adicionalmente, Souza (2015), ainda destaca que, esta crise política criada e manipulada midiaticamente é mais uma comprovação empírica dos argumentos listados em seu livro: o tema da corrupção só pode ser utilizado para enganar e manipular a população, visto como sua definição e aplicação são arbitrárias, sendo utilizado de acordo com o interesse de quem o utiliza como forma de ataque. Nesse sentido, o "moralismo" relativo à classe média no Brasil sempre foi extremamente seletivo e antidemocrático ao mesmo tempo. Sua seletividade implica em ver o mal sempre fora de si e, nunca em suas ações cotidianas de exploração e, seu caráter antidemocrático ficou evidentemente estampado nas manifestações dos "coxinhas politizados" - ocorridas ao longo de 2015/16 -, em que a pauta de reivindicação refletia apenas uma virtude idealizada mas, que fora apresentada por meio de brados retumbantes como sendo uma vontade geral, que se erigia como "apoio popular" aos interesses das elites conservadoras do País - uma perspectiva reducionista do problema e, ainda por cima, uma ilusão autoritária que traveste de "ordem e progresso" uma caminhada acelerada em direção ao fascismo (SOUZA, 2015). Neste aspecto, a imprensa se estabeleceu como player fundamental, posto que legitimou e glorificou o assalto ao princípio basal da soberania do voto popular em um regime dito como sendo: democrático e representativo. De tal modo, Souza (2015, p 259), lembra que: O jogo da pseudodemocracia moderna brasileira se armou: aproveitando o moralismo de fachada dos setores médios, baseados no ressentimento contra os de cima (sempre corruptos, especialmente no Estado) e o ódio contra os de baixo, destinado a ser astuciosamente insuflado sempre que a imprensa, "neutra como o dinheiro", visse seus interesses na ordem para poucos de algum modo ameaçado. Todavia, em comparação com o golpe de 1964 e a instauração do regime militar no Brasil, poucos vêm - ou, preferem não ver - a similaridade. Uma vez que as discussões atuais estão presas à conjuntura, são pobres de referencial teórico metodológico e, sobretudo, se seguem sem qualquer perspectiva histórica. Entretanto, Souza (2015), observa que a única mutação realmente efetiva ocorrida neste processo contemporâneo em relação ao do passado próximo, é a figura instituída como sendo o bastião da moralidade, da ordem, da eficiência e do direito, do herói justiceiro que trabalha incansavelmente como guardião da ordem, para incorporar os anseios gerais da sociedade sobre o mal, perfazendo suas ações em um nível acima daqueles conquistados pelos agentes da esfera política contaminada do Brasil. Os candidatos perfeitos para ocupar o hiato deixado pelos militares - por conta de sua truculência e, em igual medida, dos atos de corrupção -, vêm ao mundo, derivado do aparato dos órgãos de controle do governo e do judiciário criados pela Constituição de 1988, tais como: Polícia Federal (PF); Ministério Público (MP); Tribunal de Contas da União ( TCU), que recrutam e abrigam seus quadros, prioritariamente, nas fileiras da classe média conservadora e moralista (SEVERIANO e DÓRIA, 2015; SOUZA, 2015). Em seu último parágrafo, Souza (2015, p. 261), reflete e considera que: Mudam-se as vestes e as fantasias, "moderniza-se" o golpe, substitui-se o argumento das armas pelo argumento "pseudo-jurídico", amplia-se a aparência de "neutralidade", sai de cena a baioneta e entra no palco da ópera bufa a toga arrogante e arcaica do operador jurídico, mas preserva-se o principal: quem continua mandando de verdade em toda a encenação do teatro de marionetes são os mesmo 1% que controlam a riqueza, o poder e instrumentalizam a informação a seu bel-prazer. Os outros 99% ou são manipulados diretamente, com a classe média "coxinha", ou assistem de longe, bestializados, a um espetáculo o qual, como sempre, vão ter que pagar sem participar do banquete. Por fim, esta é uma obra excepcional, que subsidia de sobremaneira a compreensão crítica da composição da sociedade brasileira e, em igual medida, descreve e analisa os fundamentos históricos e conceituais da atual crise política nacional - e, por conseguinte: o golpe. Por sua vez, este livro deve ser lido com avidez e estudado com atenção e, só posteriormente, colocado a descansar na estante, bem ao lado de importantes autores e pensadores - clássicos e contemporâneos -, desta classe literária (ciência social crítica) e opção epistemológica. E, cabe destacar que este livro versa sobre um cenário contemporâneo e, extremamente, tangível. Desta forma, as reflexões contidas nele podem e devem ser utilizadas como sendo fonte para reconstrução da realidade a partir de pensamentos e intervenções inteligentes e equilibradas no cenário brasileiro (SOUZA, 2015).
Com objetivo de socializar parte da produção cientifica acadêmica apresentada e debatida por professores, pesquisadores e estudantes de pós-graduação no II Seminário Internacional Sociedade e Fronteiras (SISOF), realizado no âmbito do Programa de Pós-Graduação Sociedade e Fronteiras (PPGSOF), da Universidade Federal de Roraima (UFRR), estamos publicando o Volume 2 do Dossiê Sociedade e Fronteiras pela revista Textos & Debates. Assim como o Volume 1, os textos aqui reunidos foram apresentados no II Seminário, que nessa edição contou com a junção de outros eventos, o 4° Encontro da Região Norte da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), e a II Semana de Humanidades (CCH/UFRR), transcorridos no período de 11 a 14 de novembro de 2014.
O evento, com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), através do Programa de Apoio a Eventos no País (PAEP), teve como tema: Fronteiras Contemporâneas: desenvolvimento, conflitos e sociabilidades nas Amazônias, incorporando ao debate importantes reflexões sobre questões chave que perpassam por tais conceitos e que ensejam, para sua melhor compreensão, um debate interdisciplinar.
Assim, os textos aqui reunidos foram apresentados em diversas mesas redondas, seminários temáticos, minicursos e grupos de trabalhos, sendo que os quatro primeiros desse Dossiê foram apresentados na mesa Sociedades, saberes e colonialidades nas Américas. O primeiro, Ciências em Sociedade: diálogos interculturais e ecologias de saberes perante ameaças neocoloniais, de João Paulo Dias, pesquisador da Universidade de Coimbra, nos traz uma relevante e apropriada discussão, com base em Boaventura de Souza Santos, sobre a "descolonização" da ciência, tendo em vista uma nova prática de "neocolonialismo científico". Deste modo, o autor nos remete a uma reflexão sobre o papel da ciência na sociedade "num contexto onde as novas forças neocoloniais ligadas as pressões de mercado limitam o exercício de uma ciência pública e cidadã". Frente a tantos desafios, desde o direcionamento de financiamentos a áreas mais de interesse do capital do que das sociedades, ao produtivismo atrelado à publicações em periódicos de determinadas bases e editoras, há um desvio da pesquisa da suafunção central em que a "ciência deve estar ao serviço dos interesses públicos e coletivos".
Na sequência temos o texto do professor da Universidade Federal do Amazonas, Lino João de Oliveira Neves, A necessária desconstrução da colonialidade nas Amazônias e nas Américas que, em continuidade com a discussão sobre "saberes e colonialidades", apresenta a necessidade "urgente de desconstruir as múltiplas situações de colonialismo que ainda hoje submentem o viver de grande parte da população nas Amazônias e nas Américas", bem como "da necessidade de desconstruir a perspectiva colonial de produção do conhecimento, e, assim, questionar a colonialidade em todas as suas dimensões", tendo em vista que estas questões perpassam a vida das pessoas que habitam esses espaços e também a produção de conhecimento gerado a partir desses espaços.
Dando continuidade a esse debate temos a contribuição de Bruno Sena Martins, da Universidade de Coimbra, com o tema, Emancipação, Sul e Pós-colonialismo. Partindo da premissa de que "as configurações do mundo contemporâneo estão indelevelmente marcadas pelas linhas de desigualdade que se sulcaram na relação colonial" o autor trata, em seu texto, sobre "as assimetrias que dividem o Norte do Sul". Ao desenvolver uma discussão que percorre uma trajetória que vai do surgimento da Antropologia a descolonização dos saberes, o autor apresenta a "epistemologia do Sul" que, assim como a "epistemologia das ausências", possa permitir "aceder a conhecimentos alternativos que não chegaram a ocorrer porque foram impedidos de surgir, e a alternativas que foram marginalizadas e desqualificadas".
Por fim, sobre a temática que versou essa mesa, Jorge da Silva Macaísta Malheiros do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa, brinda-nos com o texto Território, poder e dinâmica espacial: diferenças e complementaridades entre geografia política e geopolítica. Discorre sobre a Geografia Política, procurando estabelecer o quadro de elementos que diferenciam esta área disciplinar da Geopolítica. Apresenta uma análise crítica de fundamentos epistemológicos, objetivos, escalas e sujeitos de investigação que servem de base para uma leitura comparativa e dinâmica, bastante apoiada em autores portugueses, das características da Geografia Política e da Geopolítica que permite estabelecer um quadro final de diferenças e complementaridades. Esse primeiro bloco nos remete, então, a necessária reflexão sobre as assimetrias Norte/Sul, colonialismo/descolonização, saberes distintos, para que possamos ter uma efetiva e reconhecida produção de conhecimento sobre outros alicerces.
O segundo bloco de textos fornece elementos para o debate sobre as fronteiras e as migrações. Abrindo esse bloco o texto de autoria de Ada Cristina Machado da Silveira e Edileuson Santos Almeida utiliza-se do estudo comparado para debater a temática das Comunidades de comunicação: nação e fronteiras do (des)encontro. Apresenta uma aproximação inicial sobre a realidade comunicacional e midiática do denominado Arco Norte do Brasil apontando as condições de fronteira e sua exposição no cenário da globalização, a presença das matrizes de cultura autóctones e a "espaciotemporalidade" própria dessa região com suas dificuldades de atualização frente à midiatização.
João Carlos Jarochinski Silva e Liliana Lyra Jubilut dão continuidade ao debate com o texto As fronteiras do Norte do Brasil e o acesso aos Direitos Sociais. O artigo foi baseado na pesquisa de campo do projeto "Pensando o Direito: Desafios à efetividade dos direitos fundamentais". Os autores apresentam um detalhado mapeamento institucional, normativo e estrutural e a análise dos obstáculos para efetivação do atendimento e acesso dos migrantes, apátridas e refugiados aos serviços públicos no Brasil. Destacam alguns subsídios para o aperfeiçoamento de políticas públicas e enumeram diversas dificuldades de acesso aos Direitos Humanos, enfrentadas pelos migrantes em algumas áreas de fronteira da Região Norte do Brasil.
Ampliando as reflexões em torno da questão das migrações, Alessandra Rufino Santos nos apresenta a temática do Tráfico humano e contrabando de migrantes em regiões de fronteiras. Frente a atual conjuntura dos deslocamentos humanos, a autora nos convida a uma ampla reflexão sobre os mecanismos de condução dos deslocamentos, cada vez mais controversos e apropriados pelo mercado ou por redes especializadas no tráfico e contrabando de migrantes nas regiões de fronteiras. A autora alerta que a economia política das migrações ou a exploração comercial dos migrantes tornam-se elementos convergentes tanto no contrabando quanto no tráfico humano com destaque especial para as situações de exploração sexual comercial de homens e mulheres.
Com o título Imigração de jovens mulheres brasileiras na Guiana Francesa: entre categorizações etno-nacionais e estratégias de integração nos "espaços de integrabilidade" da sociedade de recepção, Brigida Ticiane Ferreira da Silva nos apresenta a trajetória de oito brasileiras instaladas na Guiana Francesa, em situação de miscigenação conjugal. Trata-se de um estudo instigante e complexo que busca identificar a maneira como as brasileiras se percebem no meio profissional e social através de representações construídas a partir das experiências de contato com diversos grupos presentes na Guiana Francesa.
Arieche Kitiane Silva Lima e Francilene dos Santos Rodrigues nos brindam com o texto Vozes da migração: relatos das guianenses em Roraima. Segundo as autoras, a migração internacional implica em transformações intensas nas relações, nas hierarquias sociais e étnicas. Nessa perspectiva abordam a temática do deslocamento internacional de populações de países pertencentes à Pan-Amazônia, em especial as implicações desse fenômeno nas relações familiares enfocando a perspectiva das mulheres guianenses. Identificam os arranjos familiares, as vivências transnacionais e demais estratégias que permeiam os vínculos familiares durante o processo migratório que demanda a construção de atitudes e comportamentos considerados adequados para lidar com as novas dinâmicas migratórias transfronteiriças que implicam na ruptura de modelos ideais, a ressignificação dos papéis familiares e o estabelecimento de novos arranjos na família.
Dando prosseguimento à temática das migrações de fronteiras, Maria Lúcia da Silva Brito e Carla Monteiro de Souza avançam com as reflexões sobre a relação entre memória, cultura e identidade de uma imigrante guianense residente há mais de vinte anos no município de Boa Vista, capital do estado de Roraima. Com o título quase poético Os fios de memória de Rose: uma imigrante guianense em Boa Vista –RR, as autoras debatem as questões de memória e identidade com aporte teórico na Linguística Aplicada, nos Estudos Culturais, nas Ciências Sociais e nos estudos migratórios.
De acordo com Mariana Cunha Pereira "os desenhos espaciais das cidades fronteiriças de Bomfim e Lethem revelam que a espacialidade reflete como operam a economia e as trocas simbólicas nas fronteiras". Com o texto intitulado Bonfim (Br) e Lethem (Gy): economia e trocas simbólicas de espacialidades marcadas pela diversidade, a autora afirma que economia, no sentido das relações comerciais, mas, também a economia política denuncia as relações identitárias e de poder entre os moradores das duas cidades. A autora registra as narrativas e documentações fotográficas sobre as duas cidades e seus moradores e observa as trocas simbólicas entendidas como saberes e valores que circulam nas espacialidades fronteiriças.
O texto A imigração estudantil em regiões de fronteira: as experiências contemporâneas de Foz do Iguaçu - PR e Boa Vista – RR, de Pedro Marcelo Staevie apresenta o paradoxo das migrações estudantis observadas em dois extremos do Brasil: a Universidade Federal da Integração Latino-americana (UNILA), em Foz do Iguaçu e a Universidade Federal de Roraima em Boa Vista. O artigo debate a importância do ensino superior no "chamamento" de imigrantes (estudantes) para estas duas cidades que experimentaram nas últimas décadas um intenso fluxo imigratório.
O último bloco de textos é composto por dois artigos que discutem temáticas consideradas transversais nos estudos da fronteira Pan-Amazônica. O primeiro texto tece importantes considerações teóricas sobre as estratégias de dominação, mais especificamente sobre a ideologia racista e a sexista. Gênero e raça: dominação, resistências e pressupostos teóricos, foi o título escolhido pelas autoras Iana dos Santos Vasconcelos Eliane Silvia Costa para realizar uma breve revisão bibliográfica sobre a temática das ideologias racista, de gênero ou classe, que se diferenciam, hierarquizam e subjugam grupos sociais considerados ideologicamente inferiores e proporcionam privilégios para aqueles tidos como superiores.
O segundo e último texto desse bloco, de autoria de Adriano de Freixo, intitulado: Ecos do luso-tropicalismo: a presença do pensamento de Gilberto Freyre no discurso da lusofonia, nos convida a ampliar o conceito de fronteiras para o "além-mar" chegando em Portugal, onde, nas décadas de 1980 e 1990, procurou-se construir uma espécie de consenso nacional em torno da ideia da lusofonia, com uma releitura, em novos parâmetros, do discurso secular da originalidade da cultura portuguesa e das marcas que ela deixou no mundo, a partir das grandes navegações dos séculos XV e XVI. Para legitimar tal ideia, amplos setores das elites culturais e políticas lusitanas procuraram em experiências passadas ou em escritos de intelectuais e pensadores portugueses e estrangeiros as bases discursivas que lhe dessem sustentação. Dentre esses pensadores, destaca-se o brasileiro Gilberto Freyre, com as suas teses sobre o lusotropicalismo e sobre a especificidade do "modo português de estar no mundo", que acabariam se tornando o principal arcabouço intelectual da lusofonia, ao serem ressignificadas em um contexto pós-colonial.
Esses breves recortes de cada um dos textos são um convite à leitura detalhada de cada um dos artigos que compõem esse segundo volume do Dossiê Sociedade e Fronteiras. Representam um esforço de síntese de temáticas amplas que podem ser aprofundadas com a leitura criteriosa de quem deseja conhecer mais as fronteiras da Pan-Amazônia e suas transversalidades.
O princípio da política é a vontade. Quanto mais unilateral, ou seja, quanto mais bem-acabado for o entendimento político, tanto mais ele acredita na onipotência da vontade e tanto mais cego ele é para as limitações naturais e intelectuais da vontade, tornando-se, portanto, tanto menos capaz de desvendar a fonte das mazelas sociais. (K. MARX)
Mantendo seu caráter interdisciplinar, a Revista Textos & Debates traz, em seu 23º número, uma abordagem cujo pano de fundo é, predominantemente, político. Obviamente há variação nos temas, nos níveis de abordagens (mais abrangentes ou mais específicos), e nas áreas de destinação dos debates propostos em cada um dos textos. Mas a esfera da política aparece, sem dúvida, como uma chave analítica central para esta edição.
O artigo que propicia uma imagem mais global da dimensão política, por seu caráter mais genérico e abrangente, e que abre a revista é, A questão da universalidade e do humanismo, de Sartori. Neste texto, o ponto central para o autor é realizar um debate sobre a concepção de universalidade e humanismo da obra de Karl Marx e Gÿorgy Lukács. Mas, para tanto, o autor é levado − ao seguir os caminhos analíticos de Marx − a apresentar o conceito de universalidade próprio da sociedade capitalista, ou seja, verificar os laços sociais da universalidade possível e necessária sob o capital: "o caráter universal dos ideais da Revolução Francesa e do Iluminismo, por exemplo, vem a ter verdade na dominação burguesa, na propriedade privada, no Direito burguês e no Estado-nação", portanto, a emancipação realizada pela transformação capitalista foi uma emancipação política, "em verdade, a emancipação do próprio mercado e dos imperativos do capital". (p. 19) O artigo avança com o debate sobre os limites do humanismo contidos nesta forma específica de emancipação política, mas, ao mesmo tempo, indica como nesta forma de sociabilidade suas "soluções e resoluções encontram-se no campo da política e, assim, também no campo da dominação, por mais permeada por uma forma de universalidade que essa dominação possa estar". (p. 15)
Nos posicionando a partir deste prisma, não nos parece trivial que boa parte dos esforços acadêmicos vinculados às ciências humanas e à filosofia depositem na esfera da política seus maiores esforços e esperanças − não raro através de um autonomização total e formalização absoluta da esfera política. Ora, ao se afirmar como esfera resolutiva, de "liberdade" e "universalidade", as lutas tendem, sob o capital, a convergirem para o âmbito político − e, no limite, ao politicismo − para buscar suas resoluções positivas.
Tomemos como exemplo, vinculado a necessidade de universalização do capital, a ampliação e unificação de um mercado internacional que exige um aparato político e jurídico internacional. Partindo de referencial analítico próprio do Direito, Rodrigo Bastos Raposo nos apresenta as discussões que veem ocorrendo sobre a fragmentação do direito internacional, em seu artigo: Quem tem medo da fragmentação do direito internacional? Em sua problemática se expressa, implicitamente, os conflitos entre a necessidade desta universalidade e as vontades dos agentes particulares em busca de vantagens dentro do sistema internacional:
Os resultados do grupo de estudos reafirmaram o caráter unitário e sistêmico do direito internacional. Mesmo em contexto de fragmentação, esse caráter é assegurado pelo direito internacional geral, que jaz como pano de fundo para todas as normas, sistemas e subsistemas do direito internacional [...] A expansão e diversificação do direito internacional é um fenômeno decorrente da evolução deste ramo do direito, não uma indicação de seu fim. Portanto, deve ser vista como a busca da realização de oportunidades históricas de desenvolvimento do direito internacional, mas também com a proposição de renovados desafios com relação à manutenção de caráter sistêmico e unitário do direito internacional. (p. 49)
Em seu caráter formal, as celeumas do direito internacional parecem desvinculadas das ações práticas dos agentes que arbitra, mas, nos aproximando de aspectos concretos da vida societária, verificamos os vínculos que tencionam esta universalidade própria da sociabilidade burguesa. É o que encontramos, em parte, no trabalho de Hernán Fair que nos apresenta seu "La revolución democrática en el discurso de Hugo Chávez".
Contrastando com boa parte das análises praticadas atualmente, em especial em relação a Venezuela, o autor se esforça para analisar o discurso −tomando o referencial teórico de Ernest Laclau − do próprio presidente venezuelano no período de 1999-2002, a primeira etapa da "revolução chavista". É louvável o esforço de compreender o discurso antes de criticá-lo, é dizer, se esforçar por uma análise imanente. Contudo, esta prática tem seus problemas potenciais quando o discurso analisado é "autonomizado", julgando o indivíduo pela ideia que faz de si mesmo.
Pois bem, o discurso de Chávez − como qualquer outro, aliás − expressa elementos da realidade que devem ser mediados e criticados em relação as funções sociais que cumpre e sua gênese histórica, ou seja: pelas contradições da vida material.
No entanto, frente a enxurrada de críticas totalmente desparametradas a respeito da "revolução bolivariana", ressaltamos a importância de uma abordagem que expresse o "outro lado", e, principalmente, que busque apreender a expressão ideológica como uma materialização das forças sociais em luta.
Fica aqui, mais uma vez, claros os limites da universalização própria ao capitalismo e, no caso latino-americano, impõe-se uma ampliação do problema: entra em pauta a questão do imperialismo e da subordinação dos países subdesenvolvidos aos padrões necessários ao grande capital.
[...] o mais interessante é que o discurso de Chávez realizará uma articulação de equivalência entre o projeto da Área de Livre Comércio para as Américas (ALCA), promovido pelos Estados Unidos e as potências mundiais, e o neoliberalismo. Ademais, não só criticará a ALCA, mas também proporá, em contraposição, uma nova forma de integração nacional e regional, que apresentará uma alternativa ao modelo de inserção acrítica a ordem global. Nesse marco, já no ano de 2001, se referirá a necessidade de conformar uma Alternativa Bolivariana para as Américas (ALBA). (p. 58)
Chávez lidará, a sua maneira e coalhado por enormes contradições, de um problema que sempre rondou os países latino-americanos: a relação entre autonomia e subordinação da nação. Questão que a academia, muitas vezes, apresenta como superada ou démodé, mais que resurge constantemente nos conflitos mais variados dentre os países que foram alvos das disputas imperialistas − e de forma dramática, pois se traduz em um alto grau de violência que atinge principalmente as parcelas mais desamparadas destas sociedades.
O problema da autonomia nacional reaparece no artigo sobre Florestan Fernandes e a "transição transada". No qual acompanhamos a reflexão de Fernandes sobre a institucionalização da ditadura militar no Brasil, se contrapondo, assim, a ideia de que houve uma "democratização" no país. Para ele a democratização significaria superar a autocracia burguesa, própria destes países que denomina como "dependentes", é dizer, significaria a superação da própria dependência.
Se nos lembrarmos do debate travado nos anos 60, sobre desenvolvimento e subdesenvolvimento, a saída apresentada por um dos principais discípulos de Fernandes, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, foi a de que seria possível o desenvolvimento porque a dinâmica interna dos países − a relação entre as classes sociais − permitiria, através de uma atuação na esfera política, um aproveitamento adequado das possibilidades de desenvolvimento, mesmo sob o estatuto da "dependência". Ao que nos parece, a obra clássica de Fernandes, A revolução burguesa no Brasil, deixa claro o quão infecunda é a esfera política nacional ao se tratar de problemas relacionados "aos de baixo". Ou seja, o quão autocrática é a burguesia nacional subordinada ao capital internacional, concentrando riqueza e poder em grau incompatível com a democracia burguesa.
Não é de se estranhar as dificuldades dos movimentos sociais para ganharem peso e serem moral e juridicamente respeitados nesses países. Na verdade, no mais das vezes, as pessoas que compõem esses movimentos não tem respeitada nem mesmo a integridade física.
Contudo, ao longo dos anos e de acordo com as conjunturas políticas e econômicas, as formas de manifestações desta autocracia burguesa variam entre mais ou menos cruentas. É o que nos apresenta Laura Nazaré de Carvalho em seu artigo sobre a mineradora, ex-estatal, Vale do Rio Doce − fundada sob o Estado Novo e estando hoje entre as maiores empresas de mineração do mundo. Ao longo da história da companhia vemos como a relação entre capital e trabalho foi sempre mediada por relações sindicais que padecem, subjugadas por esta estrutura de dominação que caracteriza o capitalismo brasileiro: seja através da intervenção estatal direta e indireta, característica em seu primeiro período, quando enquadrada pela "conciliação classista", própria da atuação de Vargas; seja pelos momentos de criminalização e repressão escancarada dos movimentos sociais − agora em outra ditadura: a de 1964; ou em sua face mais "moderna", que conjuga não só a herança depurada dos períodos anteriores, como também mecanismos mais sofisticados de cooptação e fragmentação sindical:
Os casos de terceirização de trabalhadores demitidos para exercer a mesma função como terceirizados no mesmo local são comuns. Nesses casos, os salários são rebaixados e os benefícios não são extensivos aos seus familiares. As fraudes envolvendo empreiteiras que prestam serviço a Vale também são comuns, como, por exemplo, o caso da empresa Serminas, que não possuía empregados, e sim 50 sócios que não tiravam férias e nem recebiam décimo terceiro salário e foi contratada pela Vale para transportar pessoas e materiais. (p. 100)
Outra face particular do problema da autocracia burguesa pode ser constatada no artigo de Luciana Marinho de Melo sobre A formação sociocultural de Boa Vista. Neste caso, vemos como sistematicamente a posição dos povos autóctones do extremo norte brasileiro é desrespeitada. A luta pela terra na região ganha contornos dramáticos − verdadeiros massacres que passam bem longe dos olhos e preocupações das classes médias dos grandes centros − durante toda a história nacional e que continua acesa. Mantendo formas societárias inteiras sempre sob o risco dos interesses "universais" próprios da sociabilidade do capital:
Desse retrato, pouco se alterou nos dias atuais. Embora haja um restrito grupo indígena que tenha alcançado certa ascensão social em Boa Vista, destaco que a grande maioria sobrevive em condições de extrema vulnerabilidade social, na preferia da capital. As mulheres indígenas permanecem trabalhando com serviços domésticos e os homens ainda servem de mão de obra de baixo custo no ramo da construção civil. [...] assim como a existência de estradas nas proximidades das comunidades e a constante travessia de automóveis, evidenciou um grave problema que se apresenta diante das famílias. Trata-se do tráfico de meninas e mulheres indígenas para redes de prostituição na cidade [...] (pp. 125 e 127)
A proposta da autora se vincula também a atuação no âmbito político, como forma de resolução destes conflitos, demonstrando como seria coerente uma participação bem mais ampla das populações originarias da região − em especial os povos Macuxi e Wapichana −, no que diz respeito a cultura, na estrutura administrativa de Boa Vista.
Em síntese, os vários artigos reunidos no presente número da Revista Textos & Debates nos convidam para diálogos específicos dentro dos quadros epistemológicos e temáticos de interesse variados. Mas podemos estender um pano de fundo sob tal diversidade, buscando uma unidade no diverso, no qual ressaltamos as contradições que a política expressa como esfera de atuação privilegiada e seus limites inerentes: a contradição entre vida pública e vida privada, entre interesses gerais e particulares. Daí a escolha como epigrafe desta Apresentação de um texto pouco conhecido de Marx, autor que pensa sempre a política como metapolítica, pois, no caso contrário, ao pensar a política tendo por fim a própria política, tender-se-ia divisar "a causa de todas as mazelas na vontade". Para Marx o entendimento político tende a ocultar as raízes da penúria social e a perpetuar o Estado; e isto por uma questão simples: "o Estado jamais verá no 'Estado e na organização da sociedade' a razão das mazelas sociais".¹
1 - Tanto a epigrafe quanto o restante das citações desta parte final do texto podem ser encontradas em: K. Marx; F. Engels. Lutas de classes na Alemanha. São Paulo: Boitempo, 2010, pp. 38-41.
O princípio da política é a vontade. Quanto mais unilateral, ou seja, quanto mais bem-acabado for o entendimento político, tanto mais ele acredita na onipotência da vontade e tanto mais cego ele é para as limitações naturais e intelectuais da vontade, tornando-se, portanto, tanto menos capaz de desvendar a fonte das mazelas sociais. (K. MARX)
Mantendo seu caráter interdisciplinar, a Revista Textos & Debates traz, em seu 23º número, uma abordagem cujo pano de fundo é, predominantemente, político. Obviamente há variação nos temas, nos níveis de abordagens (mais abrangentes ou mais específicos), e nas áreas de destinação dos debates propostos em cada um dos textos. Mas a esfera da política aparece, sem dúvida, como uma chave analítica central para esta edição.
O artigo que propicia uma imagem mais global da dimensão política, por seu caráter mais genérico e abrangente, e que abre a revista é, A questão da universalidade e do humanismo, de Sartori. Neste texto, o ponto central para o autor é realizar um debate sobre a concepção de universalidade e humanismo da obra de Karl Marx e Gÿorgy Lukács. Mas, para tanto, o autor é levado − ao seguir os caminhos analíticos de Marx − a apresentar o conceito de universalidade próprio da sociedade capitalista, ou seja, verificar os laços sociais da universalidade possível e necessária sob o capital: "o caráter universal dos ideais da Revolução Francesa e do Iluminismo, por exemplo, vem a ter verdade na dominação burguesa, na propriedade privada, no Direito burguês e no Estado-nação", portanto, a emancipação realizada pela transformação capitalista foi uma emancipação política, "em verdade, a emancipação do próprio mercado e dos imperativos do capital". (p. 19) O artigo avança com o debate sobre os limites do humanismo contidos nesta forma específica de emancipação política, mas, ao mesmo tempo, indica como nesta forma de sociabilidade suas "soluções e resoluções encontram-se no campo da política e, assim, também no campo da dominação, por mais permeada por uma forma de universalidade que essa dominação possa estar". (p. 15)
Nos posicionando a partir deste prisma, não nos parece trivial que boa parte dos esforços acadêmicos vinculados às ciências humanas e à filosofia depositem na esfera da política seus maiores esforços e esperanças − não raro através de um autonomização total e formalização absoluta da esfera política. Ora, ao se afirmar como esfera resolutiva, de "liberdade" e "universalidade", as lutas tendem, sob o capital, a convergirem para o âmbito político − e, no limite, ao politicismo − para buscar suas resoluções positivas.
Tomemos como exemplo, vinculado a necessidade de universalização do capital, a ampliação e unificação de um mercado internacional que exige um aparato político e jurídico internacional. Partindo de referencial analítico próprio do Direito, Rodrigo Bastos Raposo nos apresenta as discussões que veem ocorrendo sobre a fragmentação do direito internacional, em seu artigo: Quem tem medo da fragmentação do direito internacional? Em sua problemática se expressa, implicitamente, os conflitos entre a necessidade desta universalidade e as vontades dos agentes particulares em busca de vantagens dentro do sistema internacional:
Os resultados do grupo de estudos reafirmaram o caráter unitário e sistêmico do direito internacional. Mesmo em contexto de fragmentação, esse caráter é assegurado pelo direito internacional geral, que jaz como pano de fundo para todas as normas, sistemas e subsistemas do direito internacional [...] A expansão e diversificação do direito internacional é um fenômeno decorrente da evolução deste ramo do direito, não uma indicação de seu fim. Portanto, deve ser vista como a busca da realização de oportunidades históricas de desenvolvimento do direito internacional, mas também com a proposição de renovados desafios com relação à manutenção de caráter sistêmico e unitário do direito internacional. (p. 49)
Em seu caráter formal, as celeumas do direito internacional parecem desvinculadas das ações práticas dos agentes que arbitra, mas, nos aproximando de aspectos concretos da vida societária, verificamos os vínculos que tencionam esta universalidade própria da sociabilidade burguesa. É o que encontramos, em parte, no trabalho de Hernán Fair que nos apresenta seu "La revolución democrática en el discurso de Hugo Chávez".
Contrastando com boa parte das análises praticadas atualmente, em especial em relação a Venezuela, o autor se esforça para analisar o discurso −tomando o referencial teórico de Ernest Laclau − do próprio presidente venezuelano no período de 1999-2002, a primeira etapa da "revolução chavista". É louvável o esforço de compreender o discurso antes de criticá-lo, é dizer, se esforçar por uma análise imanente. Contudo, esta prática tem seus problemas potenciais quando o discurso analisado é "autonomizado", julgando o indivíduo pela ideia que faz de si mesmo. Pois bem, o discurso de Chávez − como qualquer outro, aliás − expressa elementos da realidade que devem ser mediados e criticados em relação as funções sociais que cumpre e sua gênese histórica, ou seja: pelas contradições da vida material.
No entanto, frente a enxurrada de críticas totalmente desparametradas a respeito da "revolução bolivariana", ressaltamos a importância de uma abordagem que expresse o "outro lado", e, principalmente, que busque apreender a expressão ideológica como uma materialização das forças sociais em luta. Fica aqui, mais uma vez, claros os limites da universalização própria ao capitalismo e, no caso latino-americano, impõe-se uma ampliação do problema: entra em pauta a questão do imperialismo e da subordinação dos países subdesenvolvidos aos padrões necessários ao grande capital.
[...] o mais interessante é que o discurso de Chávez realizará uma articulação de equivalência entre o projeto da Área de Livre Comércio para as Américas (ALCA), promovido pelos Estados Unidos e as potências mundiais, e o neoliberalismo. Ademais, não só criticará a ALCA, mas também proporá, em contraposição, uma nova forma de integração nacional e regional, que apresentará uma alternativa ao modelo de inserção acrítica a ordem global. Nesse marco, já no ano de 2001, se referirá a necessidade de conformar uma Alternativa Bolivariana para as Américas (ALBA). (p. 58)
Chávez lidará, a sua maneira e coalhado por enormes contradições, de um problema que sempre rondou os países latino-americanos: a relação entre autonomia e subordinação da nação. Questão que a academia, muitas vezes, apresenta como superada ou démodé, mais que resurge constantemente nos conflitos mais variados dentre os países que foram alvos das disputas imperialistas − e de forma dramática, pois se traduz em um alto grau de violência que atinge principalmente as parcelas mais desamparadas destas sociedades.
O problema da autonomia nacional reaparece no artigo sobre Florestan Fernandes e a "transição transada". No qual acompanhamos a reflexão de Fernandes sobre a institucionalização da ditadura militar no Brasil, se contrapondo, assim, a ideia de que houve uma "democratização" no país. Para ele a democratização significaria superar a autocracia burguesa, própria destes países que denomina como "dependentes", é dizer, significaria a superação da própria dependência.
Se nos lembrarmos do debate travado nos anos 60, sobre desenvolvimento e subdesenvolvimento, a saída apresentada por um dos principais discípulos de Fernandes, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, foi a de que seria possível o desenvolvimento porque a dinâmica interna dos países − a relação entre as classes sociais − permitiria, através de uma atuação na esfera política, um aproveitamento adequado das possibilidades de desenvolvimento, mesmo sob o estatuto da "dependência". Ao que nos parece, a obra clássica de Fernandes, A revolução burguesa no Brasil, deixa claro o quão infecunda é a esfera política nacional ao se tratar de problemas relacionados "aos de baixo". Ou seja, o quão autocrática é a burguesia nacional subordinada ao capital internacional, concentrando riqueza e poder em grau incompatível com a democracia burguesa.
Não é de se estranhar as dificuldades dos movimentos sociais para ganharem peso e serem moral e juridicamente respeitados nesses países. Na verdade, no mais das vezes, as pessoas que compõem esses movimentos não tem respeitada nem mesmo a integridade física.
Contudo, ao longo dos anos e de acordo com as conjunturas políticas e econômicas, as formas de manifestações desta autocracia burguesa variam entre mais ou menos cruentas. É o que nos apresenta Laura Nazaré de Carvalho em seu artigo sobre a mineradora, ex-estatal, Vale do Rio Doce − fundada sob o Estado Novo e estando hoje entre as maiores empresas de mineração do mundo. Ao longo da história da companhia vemos como a relação entre capital e trabalho foi sempre mediada por relações sindicais que padecem, subjugadas por esta estrutura de dominação que caracteriza o capitalismo brasileiro: seja através da intervenção estatal direta e indireta, característica em seu primeiro período, quando enquadrada pela "conciliação classista", própria da atuação de Vargas; seja pelos momentos de criminalização e repressão escancarada dos movimentos sociais − agora em outra ditadura: a de 1964 ; ou em sua face mais "moderna", que conjuga não só a herança depurada dos períodos anteriores, como também mecanismos mais sofisticados de cooptação e fragmentação sindical:
Os casos de terceirização de trabalhadores demitidos para exercer a mesma função como terceirizados no mesmo local são comuns. Nesses casos, os salários são rebaixados e os benefícios não são extensivos aos seus familiares. As fraudes envolvendo empreiteiras que prestam serviço a Vale também são comuns, como, por exemplo, o caso da empresa Serminas, que não possuía empregados, e sim 50 sócios que não tiravam férias e nem recebiam décimo terceiro salário e foi contratada pela Vale para transportar pessoas e materiais. (p. 100)
Outra face particular do problema da autocracia burguesa pode ser constatada no artigo de Luciana Marinho de Melo sobre A formação sociocultural de Boa Vista. Neste caso, vemos como sistematicamente a posição dos povos autóctones do extremo norte brasileiro é desrespeitada. A luta pela terra na região ganha contornos dramáticos − verdadeiros massacres que passam bem longe dos olhos e preocupações das classes médias dos grandes centros − durante toda a história nacional e que continua acesa. Mantendo formas societárias inteiras sempre sob o risco dos interesses "universais" próprios da sociabilidade do capital:
Desse retrato, pouco se alterou nos dias atuais. Embora haja um restrito grupo indígena que tenha alcançado certa ascensão social em Boa Vista, destaco que a grande maioria sobrevive em condições de extrema vulnerabilidade social, na preferia da capital. As mulheres indígenas permanecem trabalhando com serviços domésticos e os homens ainda servem de mão de obra de baixo custo no ramo da construção civil. [...] assim como a existência de estradas nas proximidades das comunidades e a constante travessia de automóveis, evidenciou um grave problema que se apresenta diante das famílias. Trata-se do tráfico de meninas e mulheres indígenas para redes de prostituição na cidade [...] (pp. 125 e 127)
A proposta da autora se vincula também a atuação no âmbito político, como forma de resolução destes conflitos, demonstrando como seria coerente uma participação bem mais ampla das populações originarias da região − em especial os povos Macuxi e Wapichana −, no que diz respeito a cultura, na estrutura administrativa de Boa Vista.
Em síntese, os vários artigos reunidos no presente número da Revista Textos & Debates nos convidam para diálogos específicos dentro dos quadros epistemológicos e temáticos de interesse variados. Mas podemos estender um pano de fundo sob tal diversidade, buscando uma unidade no diverso, no qual ressaltamos as contradições que a política expressa como esfera de atuação privilegiada e seus limites inerentes: a contradição entre vida pública e vida privada, entre interesses gerais e particulares. Daí a escolha como epigrafe desta Apresentação de um texto pouco conhecido de Marx, autor que pensa sempre a política como metapolítica, pois, no caso contrário, ao pensar a política tendo por fim a própria política, tender-se-ia divisar "a causa de todas as mazelas na vontade". Para Marx o entendimento político tende a ocultar as raízes da penúria social e a perpetuar o Estado; e isto por uma questão simples: "o Estado jamais verá no 'Estado e na organização da sociedade' a razão das mazelas sociais". ¹
¹ Tanto a epigrafe quanto o restante das citações desta parte final do texto podem ser encontradas em: K. Marx; F. Engels. Lutas de classes na Alemanha. São Paulo: Boitempo, 2010, pp. 38-41.