"EM CLÍNICO GERAL JÁ ME ESTRESSEI, IMAGINA NO GINECOLOGISTA": PERSPECTIVAS ETNOGRÁFICAS SOBRE SAÚDE SEXUAL E SAÚDE REPRODUTIVA DE HOMENS TRANS
In: Vivência: Revista de Antropologia, Band 1, Heft 61
Este trabalho discute as experiências de cuidado em saúde sexual e saúde reprodutiva de homens trans. Abordo as principais dificuldades enfrentadas por esses sujeitos e suas estratégias para serem atendidos nos serviços ginecológicos disponíveis nas redes pública e privada, analisando dados de uma pesquisa de campo etnográfica e de entrevistas semiestruturadas que realizei em contextos de ativismo trans em João Pessoa/PB e outras cidades brasileiras, entre os anos de 2018 e 2019. Exploro primeiro a forma como os interlocutores construíam identidades de homens e viviam seus corpos e sexualidades de maneiras que tensionavam a norma binária de sexo/gênero implicada nas práticas e métodos de prevenção e contracepção biomédicos. Em seguida, discuto como se configuravam condições de acesso ao cuidado médico ginecológico, cenário revelador de barreiras simbólicas, materiais e institucionais que dificultavam e afastavam os sujeitos dos serviços de saúde. A análise aponta a importância do reconhecimento da identidade de gênero para que homens trans sejam acolhidos no acesso ao cuidado em saúde sexual e reprodutiva, fator que mobiliza a construção de estratégias para encontrar profissionais qualificados para atender sujeitos trans. Serviços ambulatoriais do Processo Transexualizador do SUS que oferecem atendimento ginecológico são espaços privilegiadamente procurados pelos interlocutores, o que sugere que o atendimento em saúde para homens trans se beneficiaria de uma maior atuação de médicos ginecologistas nesses serviços.
Palavras-chave: Homens Trans; Transexualidade; Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva; Sexualidade; Antropologia do Gênero e da Sexualidade.