Nietzsche: a transvaloração do sentido do sofrimento em O nascimento da tragédia
In: Cadernos Nietzsche, Band 44, Heft 3, S. 93-110
ISSN: 2316-8242
Resumo: Neste artigo pretendemos sustentar a tese de que Nietzsche, desde sua primeira obra O nascimento da tragédia, até os seus últimos textos, como Crepúsculo dos ídolos, particularmente em O que eu devo aos antigos, propõe uma radical transvaloração do sentido do sofrimento humano. Ele adota uma perspectiva totalmente diferente das concepções metafísicas e religiosas ocidentais, que consideraram o sofrimento como uma objeção à vida, oriundo de culpas, de falhas, de "pecados", que devem ser expiados através de inúmeros constrangimentos, até a inexorável morte. A transvaloração nietzschiana, com sua singular perspectiva trágica, inaugurada em O nascimento da tragédia e sustentada ao longo de toda sua obra, muito longe de considerar o sofrimento com uma objeção ou imperfeição da existência, o valoriza e até o exalta como outra modalidade do devir vital, consubstancial e inerente a toda afirmação, a todo prazer, a toda possibilidade de alegria.